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Entrevistas Médico Levimar Rocha Araújo fala como o diabetes deve ser tratado

O médico Levimar Rocha construiu uma carreira de 20 anos pautada no amor e na dedicação às pessoas com diabetes.

Bianca Fiori | 29/10/2019

Médico Levimar Rocha Araújo fala como o diabetes deve ser tratado

Na 14º edição da Momento Diabetes, entrevistamos o endocrinologista mineiro Levimar Rocha Araújo, que tem diabetes tipo 1 e um lema forte: “Eu trato a pessoa e não a doença.”

Carismático, perfeccionista e um excelente profissional de saúde. Essas são algumas das características de Levimar Rocha que na época estava à frente da Colônia Diabetes Weekend, um dos principais acampamentos para crianças e jovens com diabetes do Brasil, um respeitado diabetologista brasileiro.

Na entrevista a seguir, ele revela alguns dos sonhos que deseja realizar nas questões que envolvem os indivíduos com diabetes. Então senta, pega um “cafézin” e desfrute dessa deliciosa entrevista.

Momento Diabetes: Por que você escolheu esta área da medicina para trabalhar?

Dr. Levimar: Sou formado em medicina há 25 anos e trabalho com endocrinologia há 22. Esta área sempre chamou a minha atenção, pois o endocrinologista pode tratar o ser humano como um todo.

MD: Em todos esses anos de atuação, o que mais chamou sua atenção em relação às mudanças do tratamento do diabetes?

Dr. Levimar: O diabetes é a doença cujos tratamentos mais mudam na endocrinologia e, provavelmente, em todas as doenças. A todo momento temos notícias de novas insulinas, novos monitores de glicose, etc. Em apenas 30 anos, saímos da insulina NPH para insulinas modernas ultrarrápidas. As mudanças são enormes tanto no diagnóstico quanto no tratamento do diabetes tipo 1 e tipo 2.

 

MD: E como foi receber o próprio diagnóstico?

Dr. Levimar: Tenho diabetes tipo 1 há 35 anos e naquela época o tratamento era bem difícil. Não havia essa variedade de produtos e remédios tão modernos e eficazes como há atualmente.

MD: Você é mais exigente com seu controle glicêmico pelo fato de ser endocrinologista?

Dr. Levimar: Acredito que minha personalidade me cobra muitas coisas. Me cobro sempre ser um médico melhor, ser um professor melhor, ter uma glicemia adequada. Sou extremamente perfeccionista e quero as coisas sempre muito certinhas. Mas aprendi que a gente não precisa tirar dez em tudo. Com 7,5 você passa até em Harvard, uma das mais conceituadas universidades do mundo localizada nos Estados Unidos. Então, a gente não precisa ser sempre o melhor em tudo, isso é um estilo de vida.

MD: As pessoas te olham diferente por você ser endocrinologista e ter diabetes?

Dr. Levimar: Acredito que não. Eu não me faço um mártir por ter diabetes e também nunca conto aos meus pacientes que sou diabético. Entretanto, se me perguntam, não escondo. Mas não acho legal ficar dizendo que tenho a condição para que as pessoas não pensem que trato melhor os pacientes que também têm a condição. Existem
colegas médicos que não têm diabetes e tratam muito bem seus pacientes. Eu sou da filosofia de que a gente não trata a doença, mas sim a pessoa.

MD: O que é mais difícil no controle do diabetes?

Dr. Levimar: Sem dúvida nenhuma é a adesão ao tratamento. Acredito que uma estratégia para que as pessoas adiram mais é fazer com elas entendam o que é o diabetes. Isso é um trabalho conjunto que envolve profissionais de saúde e pessoas que estão inseridas nesse contexto, como membros da família. É necessário explicar para o paciente o que é a doença e todos os riscos que ela implica se não for controlada. No meu consultório, gosto que o paciente entenda o que está acontecendo e que ele participe do tratamento, tendo suas próprias opiniões.

Geralmente coloco na mesa todas as opções que temos de terapia e tento mostrar ao paciente o que pode acontecer se ele usar essa ou aquela medicação. A cada consulta, faço uma revisão do que foi falado na visita anterior, destacando os pontos mais importantes. Além disso, também gosto muito da consulta compartilhada com os
outros profissionais da área, como nutricionista, fisioterapeuta, etc., bem como com a própria família e o paciente. Juntos traçamos o melhor caminho a ser seguido.

 

MD: Como surgiu a Colônia Diabetes Weekend?

Dr. Levimar: A primeira Colônia aconteceu em 1998, na cidade de Bom Jesus do Amparo (MG). Participaram apenas sete pessoas e nove profissionais de saúde. Desde o início, ela me encantou. No começo, fazíamos um evento por ano. Hoje já conseguimos realizar até três edições anuais. A ideia surgiu quando fui médico residente nos Estados Unidos. Na época, uma operadora de turismo me contratou para ser guia turístico médico de um grupo de jovens que iria para Orlando. Nessas excursões, surgiu o desejo de levar grupos de pessoas com diabetes para a Disney, pois eu via a necessidade que elas tinham de compartilhar suas experiências e dúvidas sobre o diabetes.

Infelizmente, o tempo de uma consulta médica é muito curto para falar sobre todas as coisas que o diabetes envolve. A partir desse sonho nasceu a Colônia Diabetes Weekend. A gente acha que vai participar da Colônia para ensinar, mas volta com um aprendizado intenso, porque são trocas de experiências muito enriquecedoras. Conhecemos pessoas diferentes, vemos o nosso paciente acordando, se alimentando, e muitas vezes é naquele momento que entendemos determinados pontos do tratamento dele que no consultório não conseguimos avaliar. E o acampante também acaba entendendo melhor o lado do médico.

MD: Quantos jovens em média participam da Colônia?

Dr. Levimar: A Colônia já teve 140 jovens, mas nós chegamos à conclusão de que não é interessante levar muita gente. Hoje participam no máximo cem. O contato depois do evento é mantido por meio das redes sociais. Já realizamos uma edição do acampamento na cidade de Atibaia, no interior paulista, e temos a ideia de fazer franquias
da Colônia para expandi-la para outros lugares, como Rio de Janeiro, Alagoas, Brasília, Goiás e Ceará, onde já temos médicos parceiros interessados.

MD: Qual o maior desafio de promover a Colônia?

Dr. Levimar: Já superamos um desafio importante, que foi conquistar a confiança dos pais em deixar seus filhos conosco. Agora, o desafio maior é o financeiro, pois o custo dessa ação é alto. Dependemos da indústria farmacêutica, que nos ajuda cada vez menos. Algumas redes de farmácias também colaboram e contamos com doações e o trabalho voluntário de 26 pessoas. O valor do ingresso é praticamente simbólico e cerca de 15 participantes não pagam absolutamente nada. Quando ganhamos algum prêmio, esse valor também é revertido para a Colônia.

 

MD: O maior número de diabéticos no mundo é o do tipo 2. Você já pensou em fazer algo voltado especificamente para esse público?

Dr. Levimar: Sim, já pensei, por exemplo, em criar um Diabetes Day, mas infelizmente ainda não tivemos recursos para isso. Tentamos fazer uma colônia para os pais de crianças e jovens com diabetes tipo 1. A ideia seria fazê-los vivenciar o dia a dia de quem tem a condição, experimentando na própria pele situações como medir a glicemia, contar carboidrato e aplicar insulina. No caso, colaríamos soro fisiológico na seringa em vez da insulina verdadeira.
Porém, não conseguimos quórum para realizar o evento.

MD: Você tem algum sonho profissional que ainda gostaria de realizar?

Dr. Levimar: Tenho o sonho de ser presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), órgão máximo dentro da diabetologia, para envolver mais o paciente junto aos profissionais da área. Sou vice-presidente da SBD há quatro mandatos e em 2019 vou me candidatar à presidência. Um grande sonho já realizado foi abrir uma clínica de diabetes completa, com academia e uma equipe de multiprofissionais. Agora, pretendo promover mais cursos para as pessoas com diabetes no local.

MD: Se pudesse resumir em uma frase sua experiência com o diabetes, qual seria?

Dr. Levimar: O diabetes pode ser uma oportunidade para mudanças de hábitos. Vejo o diabetes controlado muito mais como um estilo de vida do que uma doença. Precisamos cuidar dele como cuidamos da nossa vida.

 

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