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Alimentação Dieta anti-inflamatória melhora saúde de quem tem diabetes

Os alimentos certos protegem nossa flora intestinal e aumentam a imunidade, ajudando na prevenção de doenças ou auxiliando no tratamento delas.

Letícia Martins | 22/10/2019

Dieta anti-inflamatória melhora saúde de quem tem diabetes

“Todas as doenças começam no intestino”. Esta frase, atribuída a Hipócrates, médico e filósofo grego que viveu há mais de 2 mil anos, faz cada vez mais sentido. Nas últimas décadas, diversas pesquisas vêm mostrando que a saúde
do intestino impacta diretamente na saúde em geral. De acordo com especialistas, uma microbiota em perigo pode desencadear grande número de doenças, incluindo obesidade, colesterol alto, hipertensão, rinite, asma, câncer,
diabetes tipo 2, sarcopenia (perda de massa muscular) e osteopenia (perda precoce de massa óssea).

A lista não para por aí, pois há ainda os problemas de ordem neurológica e emocional, tão importantes quanto esses citados anteriormente. “A disbiose, que é o desequilíbrio da microbiota intestinal, pode provocar uma alteração nos neurotransmissores, causando depressão, ansiedade, tensão pré-menstrual forte e irritabilidade. Na parte da cognição, a memória fica mais deficiente e a capacidade de raciocínio diminui”, aponta a médica Luciana Sampaio, especializada em gastroenterologia.

Ela explica que a microbiota (ou flora) intestinal nada mais é do que um grupo de bactérias que vivem no intestino, auxiliando na digestão de alimentos e monitorando o desenvolvimento de micro-organismos que causam doenças.
Esses bichinhos do bem são precursores de certos neurotransmissores, como a serotonina, que regula o humor, o sono e o apetite. Se a microbiota estiver desregulada ou inflamada, os sintomas aparecem em forma de ansiedade,
depressão ou vontade louca de comer, por exemplo. Como nosso corpo é incrível, não é? Está tudo relacionado.

Vários fatores podem contribuir para o processo de inflamação da nossa microbiota. “A alimentação seria uma das principais causas, mas não a única”, aponta a nutricionista Ticiane Gonçalez Bovi, que tem especialização em Nutrição em Doenças Crônicas no Atendimento Ambulatorial pelo Hospital de Clínicas da Unicamp.

O sedentarismo, a inatividade física, bem como o uso de álcool, fumo e drogas, além da influência do meio ambiente (poluição, exposição a agentes contaminantes como agrotóxicos), também contribuem para o surgimento de
inflamações crônicas. No caso dos alimentos, o consumo excessivo bem como a falta de outros componentes protetores, pode propiciar a inflamação. “Tudo acontece a nível celular. A gordura saturada, por exemplo, quando em excesso, desregula as funções celulares, atrapalhando a organização de suas estruturas e desencadeando sinais estressores. Em resposta a este estresse, a célula fica inflamada”, explica.

A falta de nutrientes também pode ser uma causa. Cada nutriente, como vitaminas, minerais e componentes antioxidantes dos alimentos, ativa ou impede que algo aconteça dentro e fora da célula. Se houver uma desregulação, a célula dá “sinais” de algo está errado e isso pode gerar um processo inflamatório. Ou seja, tudo o que entra e tudo o que sai da célula pode gerar ou não o processo inflamatório e isso independe de um micro-organismo que possa causa esta inflação. É importante dizer que são processos inflamatórios diferentes.

“Geralmente os processos inflamatórios causados por bactérias, por exemplo, tem um período curto, já a inflamação gerada pela obesidade é crônica e cursa por um tempo maior”, diz Ticiane. Mas é bom destacar que esse processo é algo natural e nos protege, uma vez que sinaliza que algo de errado está acontecendo em nosso organismo. Assim, o próprio organismo pode se organizar e combater esta inflamação. “No entanto, a resposta inflamatória em demasia, ou a longo prazo, é prejudicial e pode gerar consequências negativas, uma delas é a resistência à insulina, por exemplo”, aponta a nutricionista.

 

E no caso de quem tem diabetes?

Aí os cuidados com a saúde do intestino devem ser redobrados, pois, segundo a nutróloga Vânia Assaly, diretora científica da Associação Latino-americana de Medicina do Estilo de Vida, quem tem a doença, tanto tipo 1 quanto tipo 2, está mais propenso a desenvolver inflamações crônicas devido às alterações metabólicas causadas pelo sobe e desce das taxas de glicose no sangue. “As oscilações glicêmicas provocam maior produção de moléculas inflamatórias, conhecidas como citoquinas, que modificam a parede celular por estresse oxidativo”, explica a médica, que tem formação em Endocrinologia e Metabologia.

O resultado disso se traduz, entre outros pontos, na dificuldade do plasma de fluir pela nossa corrente sanguínea e na alteração do endotélio, a fina parede das artérias, que, ao serem modificadas, possibilitam a entrada das
partículas de colesterol oxidativo pelo estresse. “Desta forma, a saúde do paciente fica comprometida de forma ampla”, afirma Vânia. Doutora Luciana Sampaio dá uma pista sobre outra área atingida em cheio nesse
processo inflamatório do intestino. “Pessoas que ficam doentes com muita facilidade podem estar com a flora intestinal desequilibrada.” Tudo isso acontece porque, quanto mais inflamado nosso intestino estiver, mais dificuldade ele terá de absorver os nutrientes necessários que regulam a imunidade.

“E tem mais: quando a inflamação está exacerbada, as paredes do intestino tornam-se mais permeáveis e acabam deixando que moléculas grandes entrem na corrente sanguínea, onde não é o lugar delas. Lá elas causam uma reação imunológica, podendo ativar algumas doenças autoimunes, como tireoide de Hashimoto, artrite reumatoide e até lúpus. “Por esta razão, é muito importante repor os probióticos e reparar a flora do intestinal para que tudo volte ao normal”, afirma Luciana, que atua no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e é adepta da medicina integrativa.

 

História real

Já descobrimos que é impossível falar de apenas um culpado para as inflamações do nosso organismo, uma vez que vivemos em um ambiente repleto de fatores inflamatórios que podem debilitar nosso intestino e consequentemente
o sistema imunológico.

Mas nesta matéria um desses fatores recebe o destaque: os maus hábitos alimentares.

Muitos alimentos são considerados pró-inflamatórios, entre eles açúcares refinados, gordura hidrogenada (trans), gordura saturada (de origem animal), produtos industrializados ricos em aditivos químicos e agrotóxicos alimentares. O ideal é diminuir o consumo desses produtos causadores de inflamação e incluir na alimentação diária alimentos que possuem nutrientes capazes de neutralizar a inflamação.

Insistir nessa dieta inflamatória traz um alto custo para a saúde. A advogada carioca Aline Ferreira, 32 anos, que o diga. Ela só compreendeu realmente a importância de fazer uma mudança total no estilo de vida depois de ouvir da
médica que o corpo dela era uma bomba relógio prestes a explodir.

No ano passado, Aline estava com um Índice de Massa Corporal (IMC) de 32,48 e um percentual de gordura de 48,30%. O IMC serve para avaliar o peso do indivíduo em relação à sua altura e assim indicar se está dentro do peso ideal, acima ou abaixo do desejado. Ele é calculado pela seguinte fórmula: Peso dividido pela altura vezes altura. Resultado entre 30 a 34,9 kg/m2 classifica em obesidade de grau 1 e indica risco elevado para desenvolvimento de doenças como diabetes, angina, infarto e aterosclerose.

A taxa de triglicérides de Aline também estava muito acima do limite máximo e a glicemia estava batendo na trave. Além disso, a jovem possui histórico de diabetes e câncer na família, o que agrava o quadro, já que muitas doenças têm causa hereditária. Sedentária, vivendo em São Paulo, a capital brasileira que nunca para, longe da família, e sob constante pressão, Aline abria muitas embalagens por dia. “Eu só me alimentava de produtos ultraprocessados e tinha uma ingestão absurda de açúcar e álcool no final de semana. Comia bastante pizza, lasanha e todo tipo de fritura”, conta.

A mudança começou quando Aline marcou consulta com uma nutricionista funcional. “Ela me fez enxergar que eu não precisava viver de dietas restritivas e me ajudou a resgatar o prazer de comer”, diz Aline, que passou a preparar o próprio jantar, aprendeu a montar um prato mais equilibrado no restaurante e a escolher alimentos com base no seu valor nutricional. “Meu paladar foi totalmente reeducado. Hoje não preciso mais adicionar açúcar, sal e adoçante em tudo e parei de atacar os potes de biscoito à noite, pois não sinto fome exagerada”, diz a advogada.

A meta da advogada era alcançar um IMC saudável e menos percentual de gordura. Um ano depois, ela colhe os frutos da mudança de hábito: conquistou um IMC de 27,50, próximo do normal, que é 25. O percentual de gordura do corpo de Aline está em 37% e sua taxa de triglicérides reduziu para 57. “Os efeitos dessa mudança alimentar são visíveis para mim: não tenho mais insônia, minha taxa de triglicérides caiu, não fico doente com frequência, pois minha imunidade melhorou. Sinto mais disposição para trabalhar e fazer outras coisas e o melhor de tudo é que sinto mais prazer em comer”, comemora.

O que chama a atenção na história de Aline é algo muito comum a milhares de brasileiros: o consumo excessivo de carboidratos simples. “A alimentação rica em carboidratos simples eleva a glicemia rapidamente, o que faz a insulina aumentar também. Hoje sabemos que a insulina é bastante inflamatória para o corpo”, esclarece a gastroenterologista Luciana Sampaio. Engordar, segundo ela, é uma consequência dessa alimentação que não está sendo bem metabolizada, bem absorvida pelo intestino. Com o tempo, vêm as outras encrencas que já comentamos acima. Logo, o início de uma dieta antiinflamatória é marcado pela redução no consumo desse tipo de carboidrato e pela escolha de alimentos mais nutritivos.

Luciana esclarece ainda que é preciso saber escolher o carboidrato e não excluí-lo da alimentação, pois ele fornece energia para o nosso corpo. O xis da questão está em se conhecer. Se não for fácil iniciar uma mudança alimentar sozinho (e na maioria das vezes não é), recorra a quem entende do assunto, como nutricionistas e médicos que
sigam a linha da medicina funcional integrativa. “Esses profissionais enxergam o paciente como um todo e não buscam tratar somente a doença que já se instalou. Eles procuram a raiz dessa doença para atacar direto no problema”, afirma Luciana. “Além disso, é muito importante cuidar de aspectos que não estejam ligados apenas ao corpo, mas à mente e à alma”, sugere Luciana.

 

O cardápio perfeito

Ele deve ser equilibrado e formado de preferência por alimentos naturais, ricos em componentes antioxidantes, vitaminas, minerais e macronutrientes (carboidrato, proteína e gordura) de boa qualidade. A dica de ouro aqui é: abra menos e descasque mais. Ou seja, abra menos pacotes, embalagens, saquinhos e descasque mais frutas, legumes, vegetais… Claro que é possível aproveitar até a casca de muitos alimentos, devido ao valor nutritivo, mas o
interessante é pensar que podemos ter uma vida com mais sabor e saúde consumindo aquilo que a própria natureza nos oferece. Quanto menos processado, melhor.

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