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Agenda Cem anos depois, insulina segue em evolução

A descoberta da insulina em 1921 por Frederick Banting e Charles Best, cientistas da Universidade de Toronto, no Canadá, é um marco para o tratamento da diabetes […]

Dr. Marcio Krakauer | 27/07/2021

A descoberta da insulina em 1921 por Frederick Banting e Charles Best, cientistas da Universidade de Toronto, no Canadá, é um marco para o tratamento da diabetes e para a história da medicina. Tanto é assim que rendeu o Prêmio Nobel a Banting e ao pesquisador John Macleod. Juntos, eles isolaram pela primeira vez o hormônio produzido por pâncreas de cães e, a partir daí, revolucionaram o tratamento da diabetes, até então restrito a dietas rigorosas que pouco ajudavam os pacientes.

Cem anos depois, a insulina e o tratamento do diabetes seguem inovando, no sentido de reproduzir, da melhor forma possível, a ação do nosso organismo no controle da glicose no sangue. Esse avanço alia ciência e tecnologia para tornar as terapias mais eficazes e, sobretudo, aumentar a qualidade de vida dos diabéticos e reduzir os riscos de complicações da doença.

Vivemos há muito tempo uma “pandemia” de diabetes. Um em cada 11 adultos convive com a doença – são 463 milhões de pessoas no mundo, de acordo com o último Atlas da Federação Internacional de Diabetes. Deste total, 79% se encontram em países com rendas baixa e média, segundo a entidade, aumentando os desafios da saúde pública dessas nações. E, ainda, o diagnóstico precisa avançar urgentemente: metade dos diabéticos adultos não sabe que tem a doença, como alerta a federação.

No Brasil, os casos seguem crescendo nos últimos anos. Hoje, são 16 milhões de brasileiros com a doença, como estima a Sociedade Brasileira de Diabetes. Por outro lado, felizmente, o acesso e a variedade dos medicamentos também aumentaram, favorecendo o tratamento dos pacientes com diabetes mellitus tipo 1, tipo 2 e gestacional.

Evolução das insulinas

A educação médica sobre o tema no país ampliou-se, multiplicando a prescrição de insulina em benefício dos pacientes. Além disso, a mobilização conjunta das sociedades médicas e das associações de portadores de diabetes contribui para a oferta do medicamento no mercado, dos mais simples aos mais complexos.

As insulinas disponíveis no Brasil são de alta qualidade e efetividade, similares aos produtos encontrados nos demais países. A insulina humana (NPH e Regular) é a mais consumida, fornecida sem custo para os pacientes nos postos de saúde e nas farmácias populares.

É um medicamento que entrega o que se propõe a cumprir, ou seja, ação prolongada, mas apresenta poucos benefícios como uma insulina basal. É de ação lenta, portanto, demora para fazer efeito e dura de 12 a 16 horas no organismo. A NPH, como tem pico de ação muito grande, apresenta maior risco de hipoglicemia.

Os análogos de insulina têm ação lenta, rápida e ultrarrápida. Quanto mais rápida, melhor, porque se assemelha mais à secreção de insulina pelo pâncreas. Já a insulina inalável representa o maior avanço atual na categoria de ação ultrarrápida. Ela baixa a glicose no sangue do paciente em até 15 minutos com segurança, pois os riscos de hipoglicemia são menores em comparação com outras insulinas de ação rápida como, por exemplo, o asparte.

A única insulina inalável do mundo está disponível no Brasil há um ano, depois de ser aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2019.

Os estudos para o desenvolvimento das insulinas seguem avançando, para torná-la cada vez melhor. Um dos desafios é torná-las ainda mais rápidas, tanto nas bombas de insulina como no tratamento com seringas, para imitarem ao máximo a atuação natural do pâncreas.

Também há a perspectiva de, num futuro próximo, contarmos com uma insulina basal semanal, o que trará mais conveniência para os pacientes. Aliás, as basais precisam evoluir porque muitas pessoas com diabetes tipo 2 não precisam usar as insulinas rápidas, portanto, os estudos caminham neste sentido.

Paralelamente, os métodos de administração dos medicamentos também evoluem, gerando avanços significativos nos tratamentos. As bombas de insulina que também agregam a medição da glicose, automatizando todo o processo de controle da glicemia, junto com os produtos de ação mais rápida, podem trazer grandes benefícios para as pessoas com diabetes tipo 1 ou de outros tipos que precisam do medicamento o dia todo.

Canetas de insulina inteligentes e aplicativos e software que analisam a glicose e dão sugestões de dose de insulina serão, igualmente, disponibilizados num futuro próximo. Com certeza, muitas inovações virão em benefício dos diabéticos globalmente.

*Dr. Marcio Krakauer é coordenador do Departamento de Tecnologia, Saúde Digital e Telemedicina da Sociedade Brasileira de Diabetes

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