Por Priscila Horvat*
Uma alimentação balanceada, com aquele famoso prato colorido, é a recomendação de todos os bons médicos e nutricionistas, independentemente da especialidade. Quanto mais cores, mais nutrição, saciedade e equilíbrio (e saúde!) para o organismo. Essa indicação deveria ser uma regra seguida por toda a população, mas é ainda mais importante a ser abraçada por quem vive com alguma doença crônica, como o diabetes, e quem se esforça e gasta muita energia, como atletas.
De tão importante, a alimentação desempenha um papel antes, durante e depois dos exercícios físicos. “O alimento é o combustível para que nosso corpo tenha energia e desempenhe bem as suas funções”, declara a nutricionista e profissional de educação física Fernanda Sardella Ribeiro Silva.
“Através de uma boa alimentação, o atleta com diabetes desempenhará seus objetivos na modalidade, sem colocar em risco à sua saúde”, explica Fernanda, que também atua como fitoterapeuta e personal trainer.
Segundo a profissional, o maior desafio de atletas com diabetes é controlar a glicemia, isso porque é importante que ela esteja dentro de uma faixa segura para a realização do exercício. A dica para conseguir tal feito é ter uma alimentação bem equilibrada ao longo do dia e ajustar a insulina quando necessário.
“Quando se fala em pessoas com diabetes sendo atletas, isso tem que ser muito bem estudado, inclusive qual é a modalidade que essa pessoa pratica, o tempo, a intensidade e a duração dos treinos, os horários. Todas as informações são importantes para o profissional poder adequar direitinho a alimentação e fazer o ajuste da insulina”, destaca Fernanda.
Trabalho do GLUT4
Os exercícios físicos são hipoglicemiantes, ou seja, eles reduzem os níveis de glicose no sangue. No momento das atividades, também entra em ação o GLUT4, “um transportador de glicose presente nos músculos que faz o organismo poupar a insulina e o transporte da glicose durante todo o exercício físico”.
“Esse benefício pode durar de 24 a 48 horas, o que requer cuidados na monitorização da glicemia e ajuste de alimento e insulina, para que não haja episódios de hipoglicemia horas após o exercício e durante a madrugada”, explana Fernanda.
Para conseguir o melhor resultado da ação do GLUT4, o ideal é ter um acompanhamento de um nutricionista e um profissional de educação física, que ajude na conscientização e ajuste os treinos com a alimentação.

Foto: Freepik
Planejamento: a chave do sucesso na alimentação
O planejamento deve acompanhar o atleta com diabetes, para dar tempo hábil para a compra dos ingredientes e o preparo das refeições. “Eu costumo dizer que o carboidrato é o nosso combustível mais nobre, porque é ele quem traz a energia para que a gente possa usar durante as atividades”, afirma a nutricionista.
Ela conta que os alimentos mais indicados para atletas com diabetes são os ricos em carboidratos, como frutas, sanduíches e massas. Melhor ainda se eles forem combinados com as refeições pós-treino, que devem ser equilibradas com proteínas, fibras e boas fontes de gordura, como: sanduíche de pão integral com ovo mexido e um suco de fruta. “Isso ajuda a manter a glicemia, evitando picos pós-atividades”. Fernanda exemplifica outras opções saborosas, simples e saudáveis:
- açaí batido com banana e granola,
- banana amassada com aveia,
- iogurte natural com frutas e
- oleaginosas, como castanhas.
Além de ter o olhar atento para a alimentação, é importante não se descuidar da hidratação – e isso para pessoas e atletas com diabetes ou não. “Nosso corpo é feito praticamente de água. A desidratação causa um risco tremendo à nossa saúde e pode levar à morte e falência do nosso coração”, explica a especialista.
Durante o exercício físico, dependendo do clima, da duração, da intensidade e da modalidade do exercício, acaba-se perdendo muito o calor do meio e, com isso, o corpo sua. O suor serve principalmente para fazer a homeostase (que é o equilíbrio da temperatura do corpo com o ambiente em que está). “Por isso, é preciso ficar atento com a hidratação, não somente com a ingestão de água, que é importantíssima, mas também através de isotônicos, que ajudam na reposição de sair e eletrólitos e até na própria glicose”.
Suplementação
“Através da via da alimentação a gente consegue muita coisa, então a suplementação é necessária apenas em alguns casos, quando a alimentação sozinha realmente não consegue ‘dar conta do recado’, muitas vezes em termos de porções, de quantidade. Por isso é importante avaliar cada paciente, cada exercício, cada rotina para saber se é necessário, de fato, alguma suplementação”, conta a nutricionista.
O atleta, de um modo geral, consome muito mais vitaminas e minerais do que uma pessoa não-atleta devido às atividades que eles praticam – e a suplementação pode contribuir para um maior/melhor rendimento. Então, nesses casos, vale a pena avaliar a suplementação de vitaminas que são antioxidantes (como A, C e E) e alguns minerais (como ferro).
Segredo da boa performance
Todas as pessoas, incluindo atletas, possuem certas preferências alimentares – e nem sempre elas são as mais indicadas pelos nutricionistas. O segredo, segundo a profissional, é unir equilíbrio com educação.
Além disso, ela recomenda não “testar” novos alimentos ou suplementos nas vésperas de algum evento importante, como uma prova, por exemplo, para evitar que o organismo sofra com a mudança e isso impacte diretamente no rendimento. Para não correr nenhum risco, o mais indicado é consumir alimentos habituais. “De repente a pessoa experimenta algo novo e não ser bem recebido pelo organismo. Ela pode passar mal e, por consequência, o efeito pode atrapalhar dias, semanas ou até meses de treinos”, finaliza Fernanda.
Para conseguir manter o ritmo de treinos, alimentação e hidratação balanceadas e ajuste adequado de insulina, quando necessário, a melhor opção – sempre! – é seguir a rotina indicada pelo profissional.
*Priscila Horvat é jornalista com foco em saúde e integra a equipe da Momento Diabetes.