fbpx

Coloque seu celular no modo retrato

Notícias Pesquisa inédita mostra opinião e desafios dos brasileiros sobre o acesso ao tratamento do diabetes

Estudo alerta sobre o desconhecimento da população acerca do principal exame para avaliar a glicemia e aponta demora na marcação de consultas.

Momento Diabetes | 05/11/2024

Por Priscila Horvat*

Nesta terça-feira, 5 de novembro, a Coalizão Vozes do Advocacy divulgou a pesquisa “Radar Nacional sobre o Tratamento de Diabetes no Brasil”, realizada pelo Instituto Qualibest entre julho e agosto de 2024 com 1843 participantes, com o objetivo de identificar as barreiras que impedem melhor acesso ao tratamento da condição no país.

A avaliação do resultado da pesquisa considera o perfil do diagnóstico referido de diabetes da Pesquisa Nacional de Saúde, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2019.

Segundo Vanessa Pirolo, coordenadora da Coalizão Vozes do Advocacy, a ideia da pesquisa é sensibilizar a população sobre a falta de adesão ao tratamento do diabetes, as dificuldades relacionadas ao diagnóstico e ao acesso ao tratamento. “Queremos informar a sociedade sobre a importância de procurar o tratamento adequado e os riscos à vida para quem não se trata, e como conseguir o acesso ao tratamento”, disse Vanessa, jornalista que convive com diabetes tipo 1 (DM1) há 23 anos.

Além disso, o objetivo maior com a apresentação desses novos dados é “motivar o Ministério da Saúde e as Secretarias de Saúde a formularem políticas públicas que priorizem o diagnóstico precoce, o acesso ao tratamento adequado e a desoneração do Sistema Único de Saúde (SUS)”, explica a coordenadora.

Alessandro Janoni, diretor de Pesquisas e Tendências da Imagem Corporativa e pesquisador responsável pelo estudo, contou com a consultoria de outros três profissionais: Dra Monica Gabbay, professora afiliada e pós-doutora em Endocrinologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), coordenadora do ambulatório de tecnologia em diabetes do Centro de Diabetes Unifesp e cofundadora do Instituto Brasileiro de Tecnologia e Educação em Diabetes  (IBTED); Dr. Caio Regatieri, professor adjunto do Departamento de Oftalmologia da Unifesp, chefe do setor de retina do Departamento de Oftalmologia da Unifesp e diretor científico do grupo Opty de Oftalmologia; e o Dr. Renato Kfouri, pediatra infectologista, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria e membro da Câmara Técnica Assessora do Programa Nacional de Imunizações.

Principais conclusões da pesquisa

O resultado, em geral, confirma alguns dados do último relatório do IBGE e traz novos números alarmantes, como os maiores desafios para o diagnóstico e tratamento do diabetes atingem as pessoas pretas e pardas e pertencentes às classes sociais mais baixas.

  • A maioria das pessoas com diagnóstico de diabetes (56%) têm mais de 60 anos e, dessa parcela, 58% são mulheres;
  • A questão geracional também se reflete no grau de escolaridade dos que hoje referem diagnóstico de diabetes. São 58% que não chegaram a completar o ensino fundamental versus 14% que possuem ensino superior completo;
  • A maior parte das pessoas diagnosticadas (52%) integram a classe C, ou seja, possui renda familiar mensal de até dois salários-mínimos.

Além do diabetes, a maioria dos entrevistados também sofre com hipertensão e colesterol alto. Um dos pontos de atenção da mostra reflete a falta de educação em diabetes e as consequências quando a doença não é acompanhada e controlada de forma adequada:

  • 30% dos entrevistados disseram estar com a hemoglobina glicada acima do ideal;
  • 38% não fazem medições diárias de glicemia;
  • 42% até desconhecem as próprias taxas de hemoglobina glicada.

De acordo com  a Dra. Mônica, isso significa que quase metade da população não sabe que existe ou para que serve um exame importante no controle do diabetes, que traz a média das glicemias dos últimos três meses. “Esse é um número absurdo que reflete a situação da falta de educação no assunto.”

Complicações: resultado da falta de informação e de controle

Também foi apontado que a maioria (58%) dos participantes da pesquisa passa em consultas por clínico geral ou com o médico da família; um terço faz acompanhamento com endocrinologista e 9% com cardiologistas.

Porém, mesmo com mais da metade dos entrevistados realizando o acompanhamento médico, são várias as dificuldades apontadas pelos pacientes para conseguir realizar o tratamento adequado, incluindo o tempo de espera para agendamento de consultas, sendo este o principal desafio apontado.

Outro fator de preocupação é em relação às doenças relacionadas ao diabetes. Além da obesidade e hipertensão, os problemas de visão aparecem na lista, já que metade dos entrevistados sofrem com complicações oftalmológicas.

Não medir a glicemia ou não saber o que fazer com o resultado leva à algumas complicações, como a retinopatia diabética”, explica a Dra. Monica Gabbay. Segundo o Radar Nacional sobre o Tratamento de Diabetes no Brasil, 54% dos entrevistados estão, há mais de três meses, na fila de espera para se consultar com um oftalmologista.

O gargalo do SUS gera insatisfação na população, e o problema das filas gigantescas reflete em um efeito dominó. Ao sentir algum problema de visão e não conseguir acesso imediato ao diagnóstico ou tratamento, aquele sintoma tende a piorar.

Esse é o caso da jornalista Beatriz Cunha, de 36 anos, que convive com DM1 há 28 anos. Como ela mesma contou, precisou “brigar” para conseguir atendimento para uma cirurgia de emergência para corrigir problemas oculares relacionados à doença.

“Não podemos ter vergonha de dizer que temos diabetes e que precisamos de atenção ao nosso caso. Se a gente não brigar pelo atendimento, infelizmente você entra naquela fila de espera gigantesca, e o tempo só vai fazer o sintoma piorar”, disse a jornalista, que tem diabetes tipo 1.

Por maior acesso e tratamentos mais modernos

O controle do diabetes começa pela informação e educação sobre a doença, passa pelo acesso às consultas médicas e aos exames de prevenção, e continua com o acesso a medicamentos e/ou insulinas e insumos, como fitas reagentes, glicosímetros e lancetas para medir a taxa de açúcar no sangue. Porém, pelo sistema público de saúde, pessoas com diabetes, muitas vezes, não recebem a quantidade ideal de insumos para fazer os testes diários.

Além de melhorar o acesso a esses acessórios, os pesquisadores citaram a importância da população com diabetes ter direito ao sensor de glicose, tecnologia que permite monitorar de forma contínua a glicose, gerando gráficos e relatórios que permitirão melhores tomadas de decisão e ajustes no tratamento, e ajudam a evitar hipoglicemias.

“O ideal seria que todos tivessem acesso ao sensor, principalmente as crianças, para que não tenham a necessidade de serem furadas na ponta do dedo diversas vezes ao dia”, acrescentou Vanessa Pirolo. “Mas já que isso não é possível no momento, lutamos com as armas que temos – como os resultados dessa pesquisa – para alertar a população, trabalhar por educação e conscientização do diabetes e tentar fazer mudanças nas políticas públicas”, finalizou.


*Priscila Horvat é jornalista com foco em saúde e integra a equipe da Momento Diabetes.

Compartilhe