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Fabiana Couto Divabética – como lidar com a autoestima e o diabetes

Movimento resgata a autoestima de adolescentes e mulheres com diabetes e abre espaço para o debate sobre saúde mental, sentimento e emoções.

Letícia Martins | 23/10/2019

Divabética – como lidar com a autoestima e o diabetes

Na 13º edição da Momento Diabetes, publicamos uma matéria sobre autoestima e problemas emocionais causados em decorrência do diabetes. Os transtornos que podem atingir desde adolescentes a mulheres adultas merecem mais atenção e você pode descobrir a seguir como surgiu o movimento “Divabética“.

“Eu sentia muita vergonha de ter diabetes, principalmente quando estava no meio de pessoas que não tinha a condição. Por isso, não contava para ninguém e me afastei de todo mundo”. O depoimento, forte e impactante, é da professora de Alagoinhas (BA), Scheila Alves Santana, de 32 anos.

Ela descobriu o diabetes tipo 2 há oito anos, época em que adorava viajar com os amigos, ir a festas e beber. Sem conhecer ninguém com diabetes e ouvindo só coisas ruins sobre o diabetes, ela se desesperou. “Chorei muito, fiquei em pânico e não conseguia parar de pensar no rumo que minha vida ia tomar”, desabafa.
Assim como Scheila, milhares de adolescentes e mulheres encontram dificuldade em aceitar o diagnóstico e de lidar com as oscilações emocionais que estão relacionadas tanto à vida de uma forma geral quanto ao dia a dia com
diabetes.

Segundo dados da Associação Americana de Diabetes (ADA, na sigla em inglês) pessoas com diabetes têm de duas a três vezes mais chances de desenvolver depressão do que aquelas sem a doença. No caso de mulheres com diabetes tipo 1, o risco de desencadear um transtorno alimentar é três vezes maior. “É uma população mais vulnerável a questões de saúde mental pela própria condição em si, pois o diabetes demanda muitos cuidados diários”, analisa a coach em qualidade de vida Fabiana Couto.

“Além disso, a saúde mental ainda é um assunto cheio de tabus e, por isso, sem a devida atenção por grande parte dos pacientes, familiares e profissionais de saúde, que, por não conhecerem essas questões, acabam deixando-as de lado”, aponta.

Foi com o intuito de criar um espaço onde elas pudessem se abrir, trocar experiências e encontrar a ajuda necessária para evoluírem e superarem essas dificuldades que Fabiana idealizou, em agosto do ano passado, o Movimento
Divabética.

Ele surgiu inicialmente como blog e redes sociais na internet, compartilhando histórias sobre aceitação e autoestima, mas logo se tornou uma série de eventos para proporcionar a interação entre meninas, jovens e mulheres com diabetes. “Acredito que conhecer outras pessoas que tenham a mesma condição que a sua é um fator de empoderamento, um potencializador para o processo de autoaceitação”, explica Fabiana, que se baseou na própria experiência para dar o start no projeto.

“Fui diagnosticada com diabetes tipo 1 aos 13 anos e apesar de ter tido acesso a tratamento de ponta, ótimos profissionais e boa vontade e empenho da minha família, vivi durante bastante tempo com o controle inadequado. Hoje, atribuo isso a dois fatores: não ter conseguido cuidar da minha saúde mental da forma como precisava e por não ter conhecido ninguém com diabetes até os meus 26 anos de idade. Acredito que isso retardou meu processo de aceitação e prejudicou muito a adesão ao tratamento. Vejo que muitas outras pessoas também não têm esse suporte”, expõe a criadora do Divabética.

Conversar com outras pessoas que, assim como ela, convivem com diabetes fez a diferença na vida da professora Scheila. “O Divabética é maravilhoso porque descobrimos que não estamos sozinhas. Conhecer tanta gente parecida comigo me fortaleceu. Cada vez que eu leio uma história me emociono e me sinto tocada de uma forma muito positiva. Aos poucos fui aceitando o diabetes e hoje sei lidar muito bem com ele”, diz Scheila, grávida do primeiro filho.

 

Diabetes na passarela

A aceitação do diabetes é um processo que pode acontecer a partir de várias experiências que Fabiana chama de transformadoras. No evento Divabética, crianças, adolescentes e mulheres são convidadas a desfilar exibindo os
acessórios que auxiliam no tratamento e no controle da glicemia. Bomba de infusão de insulina, canetas de aplicação, seringas, sensores de glicose e aparelhos de medir a glicemia acompanham as divas na passarela, enquanto elas recebem os aplausos da plateia.

“O desfile representa uma oportunidade de transformar a vergonha de algo que faz parte de nós e do nosso dia a dia em um símbolo de superação. Na realidade, o que está sendo aplaudido é a atitude dessas meninas e mulheres de lutar pela própria qualidade de vida”, afirma Fabiana.

A veterinária Júlia Maciel Silveira, de 28 anos, foi uma das estrelas do Divabética 2017. “Participar do evento foi empoderador! Essa é a melhor palavra para descrever esse momento, mas posso usar muitas outras, como o sentimento de pertencimento, a redescoberta do meu eu interior, beleza, cuidados, igualdade.

“O Divabética me ajudou a descobrir a mulher linda que sou, deixando o diabetes apenas como detalhe na minha vida. Passei a me enxergar com um olhar menos crítico, sem vergonha por ter diabetes e usar bomba de insulina”, conta a jovem portuguesa que descobriu o diabetes tipo 1 há 14 anos e passou por uma fase de negação que durou cerca de quatro anos.

“Não queria que as pessoas soubessem do diabetes, não me cuidava devidamente. Por exemplo, eu aplicava apenas a insulina basal, pois sabia que não sobreviveria sem ela, e deixava de usar a bolus, já que não fazia o teste de glicemia antes das refeições. Foi um período muito difícil, cheio de dúvidas em relação ao futuro.

Superei essa fase e aceitei o diabetes como parte da minha vida a partir do momento que conheci outros jovens da minha idade que vivem com a condição. Entendi que é possível ter uma vida normal, não passar os dias com hiperglicemia e má disposição causada por elas, não ter hipoglicemias recorrentes quando se decide não comer ou aplicar demasiada insulina por raiva para baixar uma hiperglicemia, etc. Entendi que a normalidade é possível para quem tem DM1. É um equilíbrio que nos permite estar confiantes, fazer as nossas atividades normalmente e ser feliz”, finaliza Júlia.

 

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