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Fabiana Couto Qual a relação entre diabetes e ansiedade? A gente explica

O cotidiano de uma pessoa com diabetes envolve cuidados contínuos com o corpo. Mas, embora a saúde física tenha um papel importantíssimo no gerenciamento do diabetes, existe também um fator que precisa de atenção: a saúde emocional.

Sarah Almeida | 04/07/2019

O transtorno da ansiedade generalizada (TAG), segundo o manual de classificação de doenças mentais (DSM.IV), é um distúrbio caracterizado pela “preocupação excessiva ou expectativa apreensiva”.

Quando está em estado ansioso, o corpo libera o hormônio cortisol, que tem como uma de suas funções ajudar o organismo a controlar o estresse. O mesmo hormônio, no entanto, também serve para manter os níveis de açúcar no sangue constantes, portanto aumentando a glicose sanguínea, e esta é a razão pela qual devemos nos preocupar com a ansiedade em pessoas com diabetes.

De acordo com a conselheira da Momento Diabetes, Fabiana Couto, que tem diabetes tipo 1, é psicanalista e coach especializada em psicologia, o estresse emocional geralmente nos leva a tomar atitudes impensadas ou impulsivas.

“A rotina de uma pessoa com diabetes pode então ser comprometida se a pessoa ficar muito ansiosa, uma vez que o gerenciamento glicêmico é constante e depende da tomada de decisões e da conduta de quem tem diabetes, ao mesmo tempo que o autocuidado pode ser um gatilho para que o transtorno se desenvolva”, disse.

Para Fabiana, a preocupação com fatores sociais e financeiros também pode interferir na saúde da pessoa com diabetes. “Deve se levar em conta o medo de futuras complicações, a preocupação financeira, caso exista falta de tratamento na rede pública, a garantia do acesso à saúde e a medicação”, cita a especialista.

Ficar ansioso é natural. Algumas pessoas ficam mais e outras menos. Há momentos na vida em que estamos mais preocupados com aquilo que ainda nem aconteceu, enquanto em outros momentos tudo transcorre bem. Essa dinâmica é comum para qualquer pessoa, mas quem tem diabetes geralmente vivencia pressões sociais relacionadas ao controle do diabetes.

Mulher posando para foto vestida em um jaleco branco

Fabiana Couto tem diabetes tipo 1 e é criadora do Movimento Divabética (foto: divulgação)

Segundo Fabiana, para algumas pessoas, revelar para os colegas de trabalho sobre o diabetes é algo difícil, medir a glicemia em público ou compartilhar com o parceiro sobre os detalhes do tratamento também são situações delicadas para muita gente, mas precisam ser enfrentadas, independentemente do tipo. “Essa tensão elevada pode causar uma ansiedade prejudicial à saúde”, declara a coach.

Síndrome de burnout

Ainda na linha do cuidado mental, é importante falar sobre uma síndrome que pode se desenvolver e levar a pessoa com diabetes a abandonar ou relaxar com o tratamento por algum período de tempo, dando brecha para graves complicações.

O burnout consiste em uma sobrecarga psíquica, identificada como uma frustração, cansaço, fardo e sensação de “não aguentar mais” e está relacionada à rotina repetitiva do tratamento e do dia a dia com a doença, além da busca por resultados. Segundo Fabiana, essa pressão pode culminar na síndrome de burnout, desmotivando as pessoas a permanecerem em tratamento.

A síndrome pode ser identificada principalmente através do comportamento, de um cuidador (familiar ou responsável pelos cuidados de uma criança ou adolescente com diabetes) ou da pessoa que vive com o diabetes.

Os primeiros sinais dela são:

  • Solidão;
  • Falta de motivação para os cuidados com a saúde;
  • Abandono ou fuga de consultas médicas;
  • Descaso com a alimentação.

O burnout pode atingir também o âmbito familiar, quando todos se envolvem em atingir metas ou números inatingíveis no glicosímetro e este pode ser chamado de burnout pelo perfeccionismo.

Por isso, é fundamental que cada familiar fique atento ao comportamento da pessoa com diabetes. Se houver mudanças muito bruscas e sem motivo aparentes de humor ou atitude, buscar ajuda profissional.

 

Como lidar com a ansiedade

Para Fabiana, a ansiedade não é 100% ruim, mas se torna quando outros aspectos da rotina não estão sendo bem administrados. “A ansiedade é prejudicial quando cria de certa forma problemas e obstáculos para que essa pessoa realize as atividades diárias”, afirma.

Por exemplo, se a pessoa não consegue focar no trabalho, nas atividades familiares e sociais ou tem medo de sair de casa, pode ser sinal de um quadro de ansiedade prejudicial. “Resumindo, a ansiedade é prejudicial quando começa a afetar de forma angustiante o dia a dia e as atividades da pessoa”.

Mas calma, existem algumas maneiras de contornar a situação e não se deixar abater.

A recomendação é que a pessoa com diabetes sempre mantenha um estilo de vida saudável e equilibrado, praticando atividades físicas, evitando álcool e substâncias como drogas, que alteram a percepção da realidade, e limitando o consumo da cafeína, prezando por um sono adequado.

Fundadora do movimento Divabética, que promove a aceitação e empoderamento de pessoas com diabetes, Fabiana acredita que o segredo é administrar o pensamento acelerado da pessoa ansiosa e usar isso de maneira que auxilie o tratamento do diabetes.

“A terapia é um valioso recurso no gerenciamento dessa ansiedade, ressignificar, para que a pessoa possa se organizar, gerenciar o diabetes também é importante já que algumas situações servem como gatilho para uma crise”.

Por fim, ela também levantou a importância do acompanhamento médico, nutricional e quando possível e necessário do tratamento e inserção de medicamento prescrito por psiquiatra.

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