O transtorno da ansiedade generalizada (TAG), segundo o manual de classificação de doenças mentais (DSM.IV), é um distúrbio caracterizado pela “preocupação excessiva ou expectativa apreensiva”.
Quando está em estado ansioso, o corpo libera o hormônio cortisol, que tem como uma de suas funções ajudar o organismo a controlar o estresse. O mesmo hormônio, no entanto, também serve para manter os níveis de açúcar no sangue constantes, portanto aumentando a glicose sanguínea, e esta é a razão pela qual devemos nos preocupar com a ansiedade em pessoas com diabetes.
De acordo com a conselheira da Momento Diabetes, Fabiana Couto, que tem diabetes tipo 1, é psicanalista e coach especializada em psicologia, o estresse emocional geralmente nos leva a tomar atitudes impensadas ou impulsivas.
“A rotina de uma pessoa com diabetes pode então ser comprometida se a pessoa ficar muito ansiosa, uma vez que o gerenciamento glicêmico é constante e depende da tomada de decisões e da conduta de quem tem diabetes, ao mesmo tempo que o autocuidado pode ser um gatilho para que o transtorno se desenvolva”, disse.
Para Fabiana, a preocupação com fatores sociais e financeiros também pode interferir na saúde da pessoa com diabetes. “Deve se levar em conta o medo de futuras complicações, a preocupação financeira, caso exista falta de tratamento na rede pública, a garantia do acesso à saúde e a medicação”, cita a especialista.
Ficar ansioso é natural. Algumas pessoas ficam mais e outras menos. Há momentos na vida em que estamos mais preocupados com aquilo que ainda nem aconteceu, enquanto em outros momentos tudo transcorre bem. Essa dinâmica é comum para qualquer pessoa, mas quem tem diabetes geralmente vivencia pressões sociais relacionadas ao controle do diabetes.
Segundo Fabiana, para algumas pessoas, revelar para os colegas de trabalho sobre o diabetes é algo difícil, medir a glicemia em público ou compartilhar com o parceiro sobre os detalhes do tratamento também são situações delicadas para muita gente, mas precisam ser enfrentadas, independentemente do tipo. “Essa tensão elevada pode causar uma ansiedade prejudicial à saúde”, declara a coach.
Síndrome de burnout
Ainda na linha do cuidado mental, é importante falar sobre uma síndrome que pode se desenvolver e levar a pessoa com diabetes a abandonar ou relaxar com o tratamento por algum período de tempo, dando brecha para graves complicações.
O burnout consiste em uma sobrecarga psíquica, identificada como uma frustração, cansaço, fardo e sensação de “não aguentar mais” e está relacionada à rotina repetitiva do tratamento e do dia a dia com a doença, além da busca por resultados. Segundo Fabiana, essa pressão pode culminar na síndrome de burnout, desmotivando as pessoas a permanecerem em tratamento.
A síndrome pode ser identificada principalmente através do comportamento, de um cuidador (familiar ou responsável pelos cuidados de uma criança ou adolescente com diabetes) ou da pessoa que vive com o diabetes.
Os primeiros sinais dela são:
- Solidão;
- Falta de motivação para os cuidados com a saúde;
- Abandono ou fuga de consultas médicas;
- Descaso com a alimentação.
O burnout pode atingir também o âmbito familiar, quando todos se envolvem em atingir metas ou números inatingíveis no glicosímetro e este pode ser chamado de burnout pelo perfeccionismo.
Por isso, é fundamental que cada familiar fique atento ao comportamento da pessoa com diabetes. Se houver mudanças muito bruscas e sem motivo aparentes de humor ou atitude, buscar ajuda profissional.
Como lidar com a ansiedade
Para Fabiana, a ansiedade não é 100% ruim, mas se torna quando outros aspectos da rotina não estão sendo bem administrados. “A ansiedade é prejudicial quando cria de certa forma problemas e obstáculos para que essa pessoa realize as atividades diárias”, afirma.
Por exemplo, se a pessoa não consegue focar no trabalho, nas atividades familiares e sociais ou tem medo de sair de casa, pode ser sinal de um quadro de ansiedade prejudicial. “Resumindo, a ansiedade é prejudicial quando começa a afetar de forma angustiante o dia a dia e as atividades da pessoa”.
Mas calma, existem algumas maneiras de contornar a situação e não se deixar abater.
A recomendação é que a pessoa com diabetes sempre mantenha um estilo de vida saudável e equilibrado, praticando atividades físicas, evitando álcool e substâncias como drogas, que alteram a percepção da realidade, e limitando o consumo da cafeína, prezando por um sono adequado.
Fundadora do movimento Divabética, que promove a aceitação e empoderamento de pessoas com diabetes, Fabiana acredita que o segredo é administrar o pensamento acelerado da pessoa ansiosa e usar isso de maneira que auxilie o tratamento do diabetes.
“A terapia é um valioso recurso no gerenciamento dessa ansiedade, ressignificar, para que a pessoa possa se organizar, gerenciar o diabetes também é importante já que algumas situações servem como gatilho para uma crise”.
Por fim, ela também levantou a importância do acompanhamento médico, nutricional e quando possível e necessário do tratamento e inserção de medicamento prescrito por psiquiatra.