Por Priscila Horvat*
Qual o limite da internet? Ela, que sempre foi vista como ilimitada, ficou ainda maior, como se fosse possível, com a crescente “onda” de fake news que atingiu mais uma vez a área do diabetes. Isso porque, no dia 4 de setembro de 2024, a juíza da 1ª Vara do Juizado Especial Cível determinou que um vídeo do canal NuncaVi1Cientista fosse apagado sob pena de multa e estipulou uma indenização por danos morais no valor de mil reais.
Mas engana-se quem pensa que as responsáveis pelo canal, a bióloga Ana Bonassa e a farmacêutica Laura Marise, disseminaram inverdades. Muito pelo contrário. O que elas fizeram foi desmentir um post publicado em 2023 nas redes sociais em que uma pessoa afirmava que o diabetes era causado por vermes. De acordo com as cientistas, no post, essa pessoa ainda teria promovido um “protocolo para desparasitação”, como se fosse uma cura para a doença.
Além de diabetes não ser causado por vermes, não existe cura. Ou seja, duas informações erradas em uma única postagem. No vídeo publicado no canal do YouTube, as cientistas explicam que chegaram a tentar contato com o responsável pelo post para alertá-lo sobre o erro, mas foram bloqueadas. Após o fracasso dessa tentativa de correção de informação, a dupla publicou um vídeo, informando aos seus seguidores sobre os perigos de abandonar tratamentos médicos tradicionais por soluções sem comprovação científica, destacando que tal desinformação poderia colocar vidas em risco.
Diante da polêmica, a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) emitiu um comunicado esclarecendo que o diabetes não é causado por vermes. Além da SBD, o documento é assinado pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem), pela Associação Brasileira de Estudo da Obesidade (Abeso) e pelo Conselho Federal de Nutrição (CFN), e traz, entre outros pontos, a seguinte afirmação: “Têm sido veiculadas matérias na mídia sobre profissionais que defendem a ideia de que vermes estariam envolvidos no surgimento do diabetes, inclusive defendendo e, eventualmente, oferecendo tratamento antiparasitário para suposta cura da doença. Isso é um completo absurdo, sem qualquer embasamento científico. Além de ludibriar a população com informações enganosas, expõem as pessoas com diabetes à possibilidade de abandono dos tratamentos adequados, colocando-as em risco, inclusive de morte.”
No final do documento, as entidades “reforçam a necessidade de buscar profissionais sérios e comprometidos com a ciência para o tratamento adequado das pessoas com diabetes, evitando práticas oportunistas e equivocadas, muitas vezes visando exclusivamente o lucro em detrimento da saúde desses indivíduos.”
Desinformação, mitos e mentiras
Trabalhando na área de saúde há mais de uma década, a editora-chefe da revista Momento Diabetes, Letícia Martins, ressalta que mitos, tabus e mentiras envolvendo o assunto diabetes não é novidade e que é preciso sempre combater as chamadas fake news, como fizeram as profissionais do canal NuncaVi1Cientista.
“Quando comecei a escrever sobre diabetes, em meados de 2012, não sabia nada sobre o assunto e ficava impressionada com o tanto de pessoas que achavam que o diabetes era algo contagioso ou que um chá era capaz de curar o diabetes”, conta a jornalista.
O diabetes é uma condição crônica não transmissível e, até o momento, não existe cura. O que existe é tratamento, que deve ser individualizado e conduzido por uma equipe multidisciplinar de saúde séria. “Por isso, precisamos sempre combater todos os tipos de mitos e informações falsas. Esse tem sido o papel da Momento Diabetes e de tantas entidades médicas, instituições e profissionais sérios”, finaliza.
