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Tratamento Diabetes e psoríase: duas doenças crônicas que têm muito em comum

Pessoas com psoríase pustulosa generalizada têm maior chance de desenvolver diabetes tipo 2. Saiba por que e conheça os tratamentos.

| 14/11/2023

Diabetes e psoríase: duas doenças crônicas que têm muito em comum

Por Bia Sanas Zamboni e Letícia Martins, jornalistas da Momento Diabetes
Foto da capa: Miller Eszter (Pixabay)

Levante a mão se você conhece alguém com diabetes, pode ser um familiar, um colega de trabalho, um vizinho ou mesmo alguém famoso. O diabetes é uma condição crônica de saúde que atinge cerca de 537 milhões de pessoas no mundo, de acordo com a Federação Internacional do Diabetes (IDF). O Brasil é o 6º país com maior número de casos, quase 16 milhões de pessoas. Embora ainda não tenha cura, é possível controlar a doença e ter qualidade de vida, evitando complicações de saúde. Por isso, o mote da campanha do Dia Mundial do Diabetes (14 de novembro) deste ano é: conheça seus riscos e construa um futuro saudável.

Sedentarismo, excesso de peso e histórico de diabetes na família são alguns dos fatores de risco para o diabetes tipo 2 (DM2), que ocorre devido à resistência insulínica, isto é, uma dificuldade da insulina em agir no organismo. Se a taxa de açúcar no sangue (glicose) não for controlada, a pessoa pode ter complicações graves, como a retinopatia diabética, que afeta os olhos podendo levar à cegueira.

Existem algumas doenças que estão relacionadas ao DM2. Uma delas é a psoríase, uma das doenças inflamatórias sistêmicas crônicas de pele mais comuns, com prevalência mundial de 2% a 4%. “Há muito tempo se verifica uma maior prevalência de diabetes tipo 2 em pacientes com psoríase, principalmente as que têm maior superfície corporal acometida, como na psoríase pustulosa generalizada”, expõe a médica endocrinologista Patrícia Peixoto, de Campos dos Goytacazes (RJ).

Estima-se que pessoas com psoríase moderada têm 1,5 mais chances de desenvolverem DM2 do que pessoas sem psoríase. “Já quem tem a psoríase em níveis severos, como na forma pustulosa generalizada, possui risco duas vezes maior de diabetes do que aquelas que não têm psoríase”, declara a Dra. Patrícia.

De acordo com a médica dermatologista Andrea Pereira, associada da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e atuante em Taubaté (SP), a psoríase não é uma doença limitada à pele, mas com manifestação inflamatória sistêmica, daí a sua relação com o diabetes. “Atualmente, pensa-se que a inflamação que ocorre na psoríase pode afetar a resposta do organismo à insulina sanguínea. Na psoríase, parece que o corpo tem maior dificuldade em perceber a insulina no sangue. Assim, os níveis de glicemia podem aumentar, gerando um risco maior de desenvolvimento de diabetes nesses indivíduos”, explica.

A psoríase pustulosa generalizada (PPG) é um condição rara, que causa manchas vermelhas e escamosas, além de lesões cutâneas, chamadas de pústulas. Sua manifestação pode ser dolorosa, acompanhada de sintomas como mal-estar, febre, falta de apetite, tremores, desidratação, infecções secundárias e distúrbio hidroeletrolítico, como alterações de sódio e potássio. “A manifestação da doença gera impacto significativo na qualidade de vida do paciente, podendo ter sensação de repulsa por ele mesmo, o que piora com a possibilidade de odor fétido que pode ocorrer resultante das pústulas rompidas”, esclarece a Dra. Andrea.

No início do quadro, as erupções podem ser abruptas e explosivas, evoluindo de uma vermelhidão para um edema, e podendo chegar à condição de “lagos de pus”, que ocorre quando as pústulas se agrupam. Na evolução do quadro, as pústulas ressecam, descamam e deixam a pele lisa e brilhante, geralmente sem marcas. Entre os surtos, o paciente tende a permanecer assintomático por semanas, meses ou até anos.

A PPG não é contagiosa e gera muita coceira e cor, podendo causar queimação. Ela apresenta predisposição genética, mas outras causas podem dar início à doença, como estresse, problemas emocionais, fatores ambientais. Além disso, a psoríase pode comprometer as articulações com dores e inflamações, gerando o que é conhecido como “artrite psoriásica”, que ocorre em cerca de 20% a 40% das pessoas acometidas pela psoríase

Características semelhantes e tratamento

O DM2 e a PPG apresentam algumas características similares. Por exemplo, elas também têm como principal fator de risco a hereditariedade, ou seja, as chances de desenvolver DM2 e PPG aumentam se a pessoa tiver algum parente próximo com uma dessas doenças.

Enquanto a obesidade é um fator de risco para o desenvolvimento do DM2, ela não tem uma relação direta para o aparecimento da psoríase. Porém, estar acima do peso pode agravar o tratamento tanto do diabetes quanto da PPG.

Outra característica comum é que as duas doenças atingem mais a população adulta acima dos 40 anos, embora possa acometer pessoas em outras faixas etárias.

Tanto o DM2 quanto a PPG são doenças crônicas, isto é, precisam de tratamento contínuo para a vida toda. “Uma vez que há mecanismos inflamatórios em comum, o controle do diabetes e da resistência à insulina são capazes, de modo indireto, de ajudar na melhor resposta ao tratamento da psoríase”, declara a médica endocrinologista Patrícia Peixoto.

Nenhuma dessas duas doenças apresenta cura até o momento, mas com o tratamento adequado é possível controlar as doenças. Nesse sentido, fazer acompanhamento com o médico especialista é essencial para manter tanto o DM2 quanto a PPG sob controle.  Dra. Patrícia ressalta alguns pontos do tratamento. “Ambas as condições crônicas têm etiologia inflamatória e sabemos do poder anti-inflamatório da alimentação saudável. Por isso, é importante evitar o consumo de produtos alimentícios ultraprocessados, excesso de açúcares simples e gordura saturada. Por outro lado, praticar exercícios físicos regularmente e adotar um estilo de vida saudável são fortemente recomendados como parte do tratamento”, afirmou a endocrinologista.

No caso do tratamento da PPG, Dra. Andrea aponta que todos os medicamentos são “off label”, isto é, não têm indicação em bula, adaptados do tratamento da psoríase vulgar. “Novos imunobiológicos estão em desenvolvimento para o controle da PPG. Enquanto não chegam ao mercado, são utilizados os imunobiológicos aprovados para o tratamento de psoríase vulgar”. Fazer a manutenção do peso corporal adequado, monitorar a glicemia e o sistema cardiovascular são formas de prevenir o desenvolvimento de diabetes em pacientes com PPG.

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