fbpx

Coloque seu celular no modo retrato

Entrevistas Quais são as causas do diabetes tipo 2 e o que faz parecer uma doença limitante?

Médico e vice-presidente da ADJ Diabetes Brasil, Dr. Ronaldo Wieselberg esclarece dúvidas importantes sobre o diabetes que ainda pairam no ar. Por Letícia Martins, jornalista especializada em […]

Letícia Martins | 12/07/2022

Médico e vice-presidente da ADJ Diabetes Brasil, Dr. Ronaldo Wieselberg esclarece dúvidas importantes sobre o diabetes que ainda pairam no ar.

Por Letícia Martins, jornalista especializada em saúde

Desde o final de 2019, a pandemia de Covid-19 obrigou todos os países a se mobilizarem para combater o novo coronavírus. Agora que grande parte da população já está vacinada e os hospitais não estão mais com falta de leitos, começamos a respirar um pouco melhor. Mas muito antes de tudo isso acontecer, outra pandemia já assolava o nosso planeta e coloca em risco a saúde de 537 milhões de pessoas entre 20 e 79 anos de idade no mundo: o diabetes.

Porém, por se tratar de uma doença silenciosa, muitas pessoas desconhecem o diagnóstico ou as consequências do diabetes não controlado. Segundo dados da 10ª edição do Atlas do Diabetes, divulgado pela Federação Internacional de Diabetes (IDF, na sigla em inglês), no Brasil, o número de pessoas com diabetes é de 16,8 milhões, e estima-se que metade não foi diagnosticada.

Para falar sobre as causas do diabetes e principalmente os pilares do tratamento, entrevistamos o médico Dr. Ronaldo José Pineda Wieselberg, especializando em Endocrinologia e Metabologia pela Santa Casa de São Paulo; mestrando em Saúde Pública pelo Imperial College London e vice-presidente da ADJ Diabetes Brasil.

Momento Diabetes: O diabetes ainda é considerado por muitas pessoas como uma doença limitante, que traz grandes privações e sofrimento à vida do paciente. Até que ponto isso é verdade?

Dr. Ronaldo Wieselberg: O diabetes que mais causa privação e complicações à vida da pessoa é aquele que não é bem cuidado. Uma pessoa que tem diabetes e faz acompanhamento médico regular, pratica atividade física por pelo menos 150 minutos na semana, tem uma alimentação equilibrada, com o mínimo de ultraprocessados, e faz uso correto de suas medicações dificilmente terá um diabetes “limitante”. É claro que a maneira que a pessoa reconhece e lida com seu próprio diabetes tem papel essencial nessa compreensão, e é a chave para conseguir o sucesso.

 

Momento Diabetes: O que causa o diabetes tipo 2? Quais são os fatores de risco?

Dr. Ronaldo Wieselberg: Existem oito grandes causas, sendo que as principais são a redução da produção de insulina por parte do pâncreas, a obesidade, que dificulta a ação da insulina no organismo, e a dificuldade dos músculos de usarem a glicose disponível no sangue. Outras causas incluem a maior absorção de glicose pelos rins, o aumento da produção de açúcar no fígado. Os principais fatores de risco são o sedentarismo, que dificulta ainda mais o uso do açúcar no sangue por parte dos músculos, a alimentação irregular – que leva à obesidade – e os fatores genéticos – que lembrando, apesar de muito importantes, não são os maiores determinantes.

 

Momento Diabetes: Se uma pessoa tem familiar com diabetes, fatalmente ela também terá diabetes?

Dr. Ronaldo Wieselberg: Não! É importante deixar isso claro! A não ser casos raros – raríssimos! – de diabetes exclusivamente genético, por mais que uma pessoa tenha uma história familiar de muitos parentes – avós, pais, irmãos… – com diabetes, para que essa herança genética se manifeste na forma do diabetes, principalmente o tipo 2, é necessário que o ambiente, na forma da obesidade e do sedentarismo, crie a condição para isso.

 

Momento Diabetes: Como é o tratamento do diabetes tipo 2? É possível controlar o diabetes tipo 2 sem tomar medicamento?

 

Dr. Ronaldo Wieselberg: O tratamento do diabetes tipo 2 é baseado no tripé alimentação saudável, atividade física – sim, ela é parte do tratamento! – e medicação, na maioria das vezes iniciada com comprimidos, como a Metformina, a Gliclazida e a Dapagliflozina, disponíveis no SUS, podendo evoluir para o uso de insulina, com o passar do tempo.

Por muito tempo, o diabetes tipo 2 foi conhecido como o diabetes que “dá pra cuidar só com dieta e exercícios”, mas com o passar do tempo descobrimos que deixar a pessoa sem medicamentos aumentava em muito a chance de complicações.

Assim sendo, o manejo inicial do diabetes tipo 2 exige, sim, o uso de medicações e, com o passar do tempo, o médico pode reavaliar se todas as medicações são necessárias, caso a caso e pessoa a pessoa.

 

Momento Diabetes: É possível reverter o diabetes tipo 2?

Dr. Ronaldo Wieselberg: É uma questão muito mais semântica, pelo que vejo. Existem evidências de que, com dietas com poucas calorias, atividade física e redução importante do peso, o diabetes tipo 2 seja “revertido”, ou seja, a glicose se mantenha abaixo dos valores de diagnóstico de diabetes mesmo sem uso de quaisquer medicações ou cirurgia bariátrica. Porém, caso os hábitos que levaram ao diagnóstico do diabetes – especialmente sedentarismo e ganho de peso – voltem ao que era, o diabetes pode “voltar a aparecer”.

Desta forma, o diabetes “reverteu” e foi “diagnosticado pela segunda vez”, ou estava sob controle com as modificações de estilo de vida? Bem, independentemente de como chamamos, a mensagem que fica é que com perda de peso, atividade física regular e alimentação saudável é possível, SIM, diminuir o uso de medicações e melhorar a qualidade de vida.

 

Momento Diabetes: Qual é o maior desafio de tratar o diabetes tipo 2 no Brasil?

Dr. Ronaldo Wieselberg: No Brasil, o maior desafio é a falta de informação. Não apenas das pessoas que vivem com diabetes – afinal, ninguém nasceu sabendo sobre diabetes, e as pessoas não têm culpa de não saber de tudo – mas também de muitos profissionais de saúde que propagam mitos e usam de medo para convencer as pessoas.

O profissional que ao se deparar com uma pessoa com obesidade fala que ela simplesmente “precisa perder peso!”, mas não orienta como fazê-lo; o profissional que ameaça uma pessoa com diabetes ao dizer que “se não se cuidar, vai ter que usar insulina!”, como se a insulina, o primeiro milagre médico da humanidade, fosse uma punição, reforçam a desinformação e o estigma das pessoas com diabetes, que em face disso, procuram informações em todo lugar – e muitas vezes encontram informações erradas, tais como uso de chás e fitoterápicos que não apenas não funcionam, mas também atrasam o tratamento correto, aumentando o risco de complicações.

 

Momento Diabetes: E como podemos enfrentar esse desafio?

Dr. Ronaldo Wieselberg: Para enfrentar a desinformação, o trabalho é grande. Os profissionais de saúde, em sua formação, precisam de atualizações sobre diabetes e sobre o relacionamento pessoa-profissional, o que é fornecido por instituições como a própria ADJ Diabetes Brasil e a Sociedade Brasileira de Diabetes, por exemplo por meio do programa Educando Educadores. Enquanto não conseguirmos atingir este objetivo para toda a população, veículos que fornecem informações confiáveis – assim como a Momento Diabetes – são imprescindíveis, e fazem um trabalho fantástico junto às pessoas com diabetes.

Gostou das explicações do Dr. Ronaldo Wieselberg? Acompanhe o trabalho dele no site www.drinsulina.com.br e no Instagram @drinsulina

 

Leia também:

Compartilhe