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Mônica Lenzi Mônica Lenzi – A educadora de multidão

Ela tem quase 140 mil seguidores no Facebook e sabe muito sobre diabetes, apesar de não ter a condição. Além da presença online, Mônica Lenzi viaja o Brasil ensinando profissionais de saúde e pacientes.

Bianca Fiori | 09/04/2018

Farmacêutica, mãe, esposa, empreendedora nata e conselheira da Momento Diabetes, a mineira Mônica Lenzi não mede esforços para levar conhecimento e informação sobre diabetes ao maior número possível de pessoas, além de mostrar como o farmacêutico pode ajudar quem tem a condição a aderir melhor ao tratamento e atingir o controle glicêmico. “Quando optamos por uma profissão na área da saúde, escolhemos cuidar de alguém. Eu escolhi cuidar das pessoas com diabetes”, diz. Na 9 edição da Momento Diabetes, a farmacêutica contou um pouco da sua história, confira a seguir.

 

Momento Diabetes: Como começou sua história com o diabetes?

Mônica Lenzi: O diabetes surgiu para mim como oportunidade de transformar a vida das pessoas. Em 2004, eu morava em Blumenau (SC) e trabalhava viajando muito. Queria ter filhos, mas a maternidade não era compatível com a minha carreira profissional. Por isso, pensei em montar uma farmácia, pois assim poderia trabalhar perto dos meus filhos e voltar para casa todas as noites.

Mas não queria que ela fosse mais uma no meio de tantas farmácias que existiam no mercado. Como herdei o espírito empreendedor da família do meu pai, logo dei início a um plano de negócios e, em minhas pesquisas, verifiquei que as pessoas com diabetes tinham que fazer uma verdadeira peregrinação para conseguir tudo o que precisavam para controlar a doença. Foi assim que decidi abrir uma farmácia que atendesse a este público e tivesse tudo o que eles precisam: medicamentos, insumos, alimentos especiais, entre outras coisas.

 

MD: Qual é o papel do farmacêutico no tratamento do diabetes?

 

Mônica: O farmacêutico é visto pela sociedade como o profissional da produção e distribuição de medicamentos, mas ele também é um profissional de saúde. Quando optamos por esta área, escolhemos cuidar de alguém. Eu escolhi cuidar das pessoas com diabetes. O farmacêutico é o profissional de saúde que está mais próximo dos pacientes, já que vamos mais à farmácia do que ao médico. Ele pode ajudar com acompanhamento e orientação sobre o uso correto dos medicamentos, sobre como manusear os insumos e até em questões relacionadas às mudanças de hábitos etc. Várias pesquisas demonstram que, com a intervenção do farmacêutico, o diabético tem uma melhor adesão ao tratamento, minimizando o surgimento de complicações ao longo do tempo.

MD: O que você ensina nos treinamentos que faz pelo país?

Mônica: Tenho mais de 10 anos de experiência somente atendendo pessoas com diabetes e seus cuidadores. Então, ensino aquilo que aprendi no dia a dia do atendimento, os detalhes que passam despercebidos pelo paciente e pelo médico durante a consulta e que nunca foram ensinados na faculdade. Desenvolvi uma linguagem clara, objetiva, e falo de temas como a falta de rodízio de locais de aplicação de insulina, os riscos de reutilizar material descartável, como escolher o medidor de glicose, as melhores práticas para um teste de glicemia capilar, entre outros. Além dos encontros presenciais, desenvolvi um curso online, com vídeo-aulas, que disponibilizo no meu site: www.diabetesexpert.com.br.

 

MD: Quais são as maiores dúvidas do profissional de farmácia em relação ao diabetes?

 

Mônica: Assim como o farmacêutico, outros profissionais de saúde sofrem da “Maldição do Conhecimento”. Vivemos cada dia mais em tribos e usamos um dialeto específico para elas, acreditando que as pessoas de fora têm total compreensão deste dialeto. Na verdade, não é isso o que acontece, pois nossos pacientes (clientes) não compreendem nossas orientações e chegam em casa sem saber o que realmente devem fazer, dificultando a adesão ao tratamento. Certa vez, uma aluna me ligou porque não estava conseguindo orientar um cliente sobre como colocar o refil de insulina NPH na caneta. Já fui procurada por uma enfermeira, especializada em urgência, que teve a filha diagnosticada com diabetes tipo 1 e não sabia como agir, já que esta não era a realidade da vida dela no dia a dia. As dúvidas são muitas.

MD: Ainda há muitos pacientes que chegam às farmácias procurando uma “cura” milagrosa para o diabetes?

Mônica: Sim, mas não só nas farmácias. Tenho um canal de educação em diabetes na internet desde 2008 e vejo que as pessoas continuam procurando por um milagre ou uma solução rápida. Quem não sonha com a perda de peso em poucas semanas para caber naquele vestido de casamento? Mudar a alimentação e praticar uma atividade física ninguém quer. O que vale é a lei do menor esforço. Assim também acontece com o diabetes, principalmente o tipo 2. As pessoas buscam dietas milagrosas, chazinhos e quando encontram valores normais de glicemia, entendem que estão curadas e abandonam o tratamento convencional e as visitas periódicas ao médico, desconsiderando as complicações que essa decisão acarreta. Precisamos lembrar que o diabetes não tem cura. Tem controle, que se consegue de duas formas: com educação e com disciplina.

 

MD: E qual a diferença entre as duas palavras?

 

Mônica: Disciplina tem a ver com mudança de comportamento. Ninguém muda ninguém, só mudamos nossas atitudes quando queremos ou tomamos conhecimento dos benefícios que as novas ações vão nos trazer. Acredito no milagre, mas naquele milagre que mora dentro de cada pessoa. Já a educação está ligada ao conhecimento. É aí que o profissional de saúde vai fazer a diferença na vida de quem tem uma doença crônica. Compartilhar conhecimento é o melhor remédio para controlar o diabetes.

MD: Como surgiu seu canal digital?

Mônica: Em 2008, montei uma farmácia virtual para atender pessoas com diabetes no Brasil inteiro e criei um blog, onde escrevia artigos e receitas diet, respondia dúvidas de pacientes e seus cuidadores. Depois veio o canal no YouTube e comecei a fazer vídeos caseiros explicando como usar os medidores de glicose. Naquela época, não tínhamos ainda o fenômeno do Facebook, Instagram e WhatsApp. Compartilhava todo o conteúdo que criava nas comunidades do Orkut. Com o tempo migrei para o Facebook.

MD: E por falar nele, são mais de 135 mil seguidores! A que você atribui tamanho sucesso?

Mônica: Atribuo esse sucesso à forma clara e objetiva com que crio os conteúdos. Uso muitas metáforas e uma técnica de marketing chamada storytelling, na qual contasse uma história para explicar algo. Assim, fica mais fácil de se entender e gravar. Apesar de 137 mil seguidores parecer ser um número expressivo, é apenas uma gota no oceano, pois só no Brasil são mais de 16 milhões de diabéticos.

 

MD: Qual é o perfil do seu público-leitor?

 

Mônica: A maior parte dos meus seguidores é de pessoas com diabetes tipo 2 e idade acima dos 40 anos. A inclusão digital tem mudado o perfil dos usuários da internet. Estas pessoas gostam muito de vídeos e de ler. Quem quer se cuidar vai atrás da informação e quando encontra um conteúdo que pode confiar, compartilha, comenta, envia dúvidas etc. Escrevei alguns livros digitais que disponibilizo em meus canais, justamente para este público, tais como “Alimentação sem restrição” e o “Desvendando os segredos do diabetes”.

MD: Quais são as maiores dúvidas que o diabetes ainda gera?

Mônica: Quando alguém recebe o diagnóstico de diabetes, acredita que seu mundo acabou, que não poderá mais comer. Fica perdido, sem saber como agir. A desinformação é o maior gargalo que existe para um tratamento eficaz. Muitos diabéticos acreditam que devem cortar somente o açúcar branco da refeição e falam assim: “Meu médico disse que estou com diabetes. Não adoço mais meu café e não tomo refrigerante. No almoço, agora, tomo um copo de suco de laranja natural.” As pessoas não têm noção de que todos os tipos de alimentos podem impactar nos níveis de glicose, não sabem o que é carboidrato e que ele se transforma em glicose durante a digestão, estando presente até nas frutas. Desconhecem que a solução é aprender a fazer boas escolhas alimentares e, para isso, conhecer os grupos de alimentos é fundamental.

 

MD: Você acredita na cura?

Mônica: Sim, acredito, pois até 1.922, quem tinha o diagnóstico de diabetes recebia uma sentença de morte. Somente após esta data as pessoas tiveram acesso às injeções de insulina, conseguindo se alimentar e controlar os níveis de glicose no sangue. O que não acredito é na teoria de pessoas oportunistas que pregam por aí que a cura já existe, mas as grandes empresas não permitem que ela seja divulgada. A cura está sendo pesquisada por cientistas renomados e de reconhecimento mundial. Um dia ela vai surgir.

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