Da prevenção à cura: evento apresentou soluções inovadoras para facilitar o dia a dia de quem vive com diabetes.
Por Priscila Horvat*
Entre os dias 19 e 22 de março aconteceu a 18ª edição do Advanced Technologies & Treatments for Diabetes (ATTD), maior congresso internacional de tecnologias no tratamento do diabetes, em Amsterdã, na Holanda. Realizado anualmente com a participação de médicos e profissionais de saúde de vários países, o evento traz as mais recentes inovações para o tratamento da condição, diretamente pelas mãos e vozes dos mais renomados nomes de diabetologia mundial.
Profissionais brasileiros e influenciadores que vivem com diabetes viajaram para a capital alemã acompanhar as novidades em primeira mão e, outros, descobriram, por meio das palestras online, o que tem de mais recente para facilitar a vida das pessoas com diabetes.
Depois do evento, a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) realizou a live Highlights ATTD 2025, com 10 profissionais que estiveram de olho em cada inovação e trouxeram as explicações das tecnologia para o tratamento da condição. A seguir, confira as 10 principais novidades do congresso, com depoimentos diretos dos especialistas:
- CGM para diagnóstico
O endocrinologista de Belo Horizonte (MG), Dr. Rodrigo Lamounier, destacou que os sensores contínuos de glicose não se limitam ao manejo da doença, podendo também servir como ferramenta diagnóstica. Ele ressaltou, por exemplo, que quando o sensor aponta que “se tem mais de 18% do tempo acima de 140 miligramas, já é considerado um alto risco” para a progressão do diabetes tipo 1. Essa abordagem pode identificar a doença antes que quadros agudos se manifestem. - Novo conceito de “TING”
O Dr. Mauro Scharf, diretor do Centro Diabetes Curitiba e do G7Med, apresentou o conceito de “TING”, time normoglycemic range, definindo-o como “o tempo na glicemia normal”, ou seja, o período em que os níveis de glicose permanecem entre 70 a 140 mg/dL.
- Sensores contínuos de cetona
Além da melhora no monitoramento da glicose, o Dr. Mauro também contou sobre as novidades em sensores contínuos de monitorização da cetona, uma tecnologia que vai alertar os usuários de bomba de insulina (importante principalmente para crianças pequenas ou adultos que perdem a conexão da bomba) quando há algum risco. A ideia é que a ferramenta tenha um valor de corte, e não fique, constantemente, avisando os valores normais. O aviso só deve aparecer em caso de risco, garantindo a prevenção de episódios de cetoacidose.
- Insulina semanal
O Dr. André Vianna, um dos pioneiros da pesquisa sobre a insulina semanal, chegou a palestrar no evento sobre o assunto, e enfatizou as vantagens desse novo tratamento, explicando que “substituir 365 (uma por dia) ou, quem sabe, 730 (duas por dia) injeções por ano para apenas 52 aplicações por ano, já é um grande avanço”. Segundo ele, além da conveniência, os estudos demonstram resultados com “menos de meio episódio de hipoglicemia por ano por pessoa”.
- Uso de aplicativos para ajuste de dose
O ponto alto da palestra do Dr. André Vianna foi o potencial dos aplicativos para ajustar a dose de insulina: “em um aplicativo simples, a pessoa coloca só o valor da sua glicemia de jejum todo dia de manhã e o app informa qual dose que a pessoa deve usar, em uma interação de menos de 30 segundos com o aplicativo”. - Bomba bi-hormonal com glucagon
A Dra. Vanessa Montanari, médica do IBTED – Instituto de Tecnologias em Diabetes, trouxe para o debate o sistema de entrega de insulina que incorpora glucagon, que faz a chamada “bomba bi-hormonal”. Ela explicou que “ao juntar os dois hormônios, insulina e glucagon, esse último evita hipoglicemias”. - Avanços nos sistemas automatizados (Full Closed Loop)
A discussão avançou e a Dra. Vanessa também explicou um pouco sobre os sistemas de automação total. Conforme comentado durante a live, “o Closet Trail, que é um estudo randomizado, controlado, mostrou que o Full Closed Loop com Android APS é muito bom, pois consegue ser mais agressivo para reduzir a glicemia pós-prandial”. Essa tecnologia promete eliminar a necessidade do lançamento manual de carboidrato, apontando para um futuro com sistemas “que fazem tudo sozinhos”.
- Personalização dos algoritmos e novas insulinas
Durante a live, vários especialistas ressaltaram a importância da evolução dos algoritmos. O Dr. Mauro Scharf comentou que “os algoritmos estão evoluindo muito rápido, e a Big Data, os Machine Learnings e os Neural Networks também estão trabalhando por trás”, mas, mesmo assim, “um problema que os algoritmos ainda vão ter é a insulina sendo infundida no local que não é o ideal para a infusão, e os indivíduos às vezes respondem de formas diferentes”. Essa inovação, como bem lembrou o Dr. André, aliada ao desenvolvimento de insulinas ultra-rápidas (como a insulina monomérica que está em fase 2 de estudos), é vista como chave para que o sistema Full Closed Loop seja superior aos modelos híbridos atuais.
- Rastreamento, imunomodulação e intervenção precoce
No campo da imunologia, as discussões enfatizaram a importância do rastreamento de anticorpos e da intervenção na fase pré-clínica do diabetes tipo 1 (DM1). De acordo com a Dra. Melanie Rodacki, cada vez mais tem se falado em rastreamento de familiares de pessoas com DM1 para o diagnóstico precoce. “Isso não gera ansiedade nas pessoas, pelo contrário. Isso significa que o profissional vai poder preparar melhor esse indivíduo para o diagnóstico e oferecer oportunidades de intervenção. Nessa fase, é oferecido um protocolo de acompanhamento para diagnosticar precocemente a normalidade da glicose em pessoas com dois ou mais anticorpos positivos, para saber quando intervir”. Essa abordagem abre caminho para preparar melhor pacientes com anticorpos positivos para intervenções que preservem a função das células beta, inclusive com terapias celulares.
- Terapia celular e encapsulamento
Por fim, a área de terapia celular foi explorada com entusiasmo. A Dra. Melanie também contou que os trabalhos com células produtoras de insulina derivadas de células-tronco – como as células VX-880 da Vertex – e os estudos sobre encapsulamento de células para evitar imunossupressão para pessoas com hipoglicemias graves e hipoglicemias assintomáticas foram destaque, mesmo que alguns estudos tenham sido interrompidos por falta de eficácia. Esses avanços renovam a esperança de, futuramente, alcançar a cura do DM1.
O ATTD deste ano demonstrou, através de intensos debates e estudos inovadores, que a tecnologia aplicada ao diabetes está em constante evolução. Felizmente, as inovações apontam para um futuro cheio de esperança, em que o manejo do diabetes pode ser cada vez mais personalizado e eficiente, beneficiando os pacientes adultos quanto pediátricos.
A live completa está disponível no canal Diabetes Play, da SBD, e pode ser assistida gratuitamente aqui.
*Priscila Horvat é jornalista com foco em saúde e integra a equipe da Momento Diabetes.