Olá, eu me chamo Marina e convivo com o diabetes tipo 1 desde 2001. Recebi o diagnóstico com 15 anos de idade após ter entrado em coma por cetoacidose.
Já ouvi muitas pessoas falarem que “o diabetes não é nada e não me limita” e interiorizei esse “nada” na minha alma. “Se o diabetes não é nada, então não devo me preocupar com ele certo?”. Era o que eu pensava. Porém, com o passar do tempo, comecei a refletir muito mais sobre a minha vida e a questionar o que eu ouvia em palestras motivacionais. Foi aí que eu escutei meu coração e percebi que algo estava muito errado dentro de mim. Eu não era feliz. Os meus resultados de exames eram ótimos, fisiologicamente tudo era perfeito, mas emocionalmente tudo era bagunça.
Chorei sozinha muitas vezes porque sempre me pareceu errado não ser grata aos melhores médicos e tratamentos que eu tinha. Acreditava que não deveria envolver alguém em um sentimento que nem eu mesma entendia. Mesmo rodeada de amigos, me sentia só. Encontrei na escrita uma chance. Tudo o que me fazia mal virava texto. Era uma espécie de diário e, aos poucos, fui esvaziando a alma. Assim o blog Diabética Tipo Ruim nasceu. Tipo Ruim porque, afinal, o meu diabetes era o “do mais forte, do tipo ruim”, como diziam.
Com o tempo, aprendi que negar os sentimentos ruins só aprofunda e prolonga a nossa dor. Entender, perceber e aceitar um problema pode nos guiar para a solução e realização de sonhos que a gente nem imagina. Por isso, gostaria de compartilhar com você cinco aprendizados que tive nesta jornada.
Aprendi a:
1) NÃO ACREDITAR EM TUDO: no começo do diagnóstico a gente pode ser sentir bombardeado de informação, porém aprendi que ser um pouco cético e sempre questionar são atitudes necessárias também. Observei muito e escutei tudo, mas absorvi apenas as partes que me fizeram bem. Acho que o fator mais importante é sempre se questionar, afinal tudo na vida tem dois lados e isso não é diferente no diabetes.
2) NÃO PROCURAR CULPADOS: ninguém tem culpa do seu diagnóstico. Contudo, ninguém além de mim tem a responsabilidade sobre o diabetes. Saber a diferença entre “pedir ajuda” e “depender de ajuda” é essencial. Apoio serve para não caminhar sozinho, mas não posso deixar que alguém me leve no colo pela estrada toda. Reconhecer que agora eu preciso viver na condição de portador de diabetes é o primeiro e um grande passo para aceitar o tratamento.
3) CONHECER MINHA LIMITAÇÃO: para mim, diabetes é um fator limitante, assim como não ter medo de altura também é. Conhecer os meus limites é essencial para me manter seguro. Procuro prestar sempre atenção na minha glicemia, planejar meu dia, comer bem, fazer os exames e me consultar com médicos especializados. Também leio sobre o tema e converso muito com outros portadores da doença. Fingir que a doença não existe é a pior opção. Ser sincera comigo mesma sobre meus sentimentos fez diferença na minha vida. O diabetes me limita, mas não me impede de nada!
4) NÃO SENTIR VERGONHA: não podemos nos diminuir para caber na vida de alguém. Quem quiser estar ao nosso lado precisa nos conhecer por inteiro e o diabetes faz parte da nossa rotina. Esconder nossos sintomas, medos, inseguranças e necessidades é basicamente anular parte de nós mesmos. Seja você por completo. Os outros vão te amar pelo simples fato de você ser inteiro e não pela metade.
5) NÃO DESISTIR: às vezes, tudo parece muito ruim e isso não acontece só comigo ou com você nem é só por causa do diabetes. Tem dia que a gente vai fingir que não é preciso se furar, contar e controlar, e vai odiar ter hipo, vai querer desencanar da hiper e vai se perguntar “por que comigo?”. O que eu posso te oferecer no lugar de respostas é um conselho que funciona comigo: descanse por uns dias. Fique na sua cama, se renda às séries de TV, chore, peça colo, dê murros no travesseiro e grite no banho. Extravase, mas não deixe que esse sentimento habite sua vida por muito tempo, tome um folego e retome. Não desista, descanse.
Estarei por aqui a cada dois meses, mas não quero aparecer para você nessas doses homeopáticas. Se gostou desse textão e quiser acompanhar minhas teorias sobre a vida, me segue lá nas redes sociais. Você me encontra como @diabeticatiporuim
Boas glicemias.
Por MARINA BARROS
Publicitária, blogueira e DM1 há 18 anos
Instagram: @diabeticatiporuim