Por Priscila Horvat*
Quando tinha apenas 14 anos de idade, Beatriz Cavalcanti Freitas, que mora em São Paulo (SP) foi diagnosticada com diabetes tipo 1 (DM1), uma doença autoimune que atinge entre 5% a 10% da população total com diabetes, que é de 20 milhões de pessoas no Brasil. O tempo passou e, 14 anos depois, a engenheira de produção descobriu, durante um autoexame nas mamas realizado no banho, que havia algo diferente em seu corpo: um caroço.
Sem perder tempo, Beatriz marcou uma consulta com a ginecologista, que tentou tranquilizá-la. Pelos exames de imagem, foi constatado um nódulo, mas era benigno. Porém, aquele sexto sentido feminino falou mais alto e, aproveitando que estava de férias, Beatriz resolveu passar com um mastologista.
Entre a consulta e o resultado do exame, mais uma surpresa: ela estava grávida! A tão esperada gravidez foi confirmada, aumentando as expectativas da jovem. Alguns dias depois, pela boca do especialista veio o diagnóstico: Beatriz tinha um carcinoma mamário invasivo. “Fiquei totalmente apavorada, porque eu nunca imaginei essa situação, principalmente com uma gravidez super recente, de nove semanas”, relata.
A engenheira de produção passou toda a gravidez realizando quimioterapias. As sessões eram semanais. Os efeitos colaterais do tratamento eram muito intensos, como vômito e diarreia, o que fazia Beatriz ficar desidratada. Do pouco que o estômago aceitava, os nutrientes iam todos para a bebê que, felizmente, não sofreu nada. “Só engordei três quilos”, relembra Beatriz.
“Em uma dessas quimios, passei muito mal e entrei em cetoacidose. Nunca tinha entrado em cetoacidose antes”, destaca. A cetoacidose é uma complicação metabólica aguda do diabetes que pode ser causada por hiperglicemia, hipercetonemia e acidose metabólica. Beatriz precisou ser internada porque o quadro evoluiu e ela foi diagnosticada com anemia severa.
Segundo Beatriz, enquanto ela estava no hospital, também foi acometida por embolia pulmonar e precisou de cuidados específicos e constantes, o que resultou em uma semana na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI).
O nascimento da primeira filha

Esta é uma das primeiras fotos que Beatriz Cavalcanti de Freitas, 28 anos, tirou depois que iniciou o tratamento contra o câncer de mama. “Esperança”.
Após tantas situações diferentes e diversos tipos de medicação, mais uma surpresa: o nascimento de sua filha. Beatriz sentiu contrações, como se fosse ter um parto normal, mesmo com apenas 30 semanas e com seis dedos de dilatação. Mas, para preservar a mãe, que já estava fragilizada, e a bebê, que era prematura, a equipe médica optou por uma cesárea. Ela veio ao mundo completamente saudável, mas precisou ser encaminhada para a UTI para ganhar peso e ficar maior e mais forte para poder ir para casa.
“Hoje faz 48 dias que ela está lá. Mas está ganhando peso, já está bem gordinha. Agora é só esperar o tempo para ela conseguir mamar. Porque como eu não posso oferecer o peito por causa da quimioterapia, ela precisa aprender a mamar na mamadeira. Como ela nasceu muito prematura, o pulmão não desenvolveu 100%, então ela cansa muito. Ela só vai poder ter alta quando aprender a mamar na madeira”.
Após tantos acontecimentos em sua vida, e todos de uma vez, Beatriz decidiu compartilhar sua história justamente para alertar outras mulheres sobre a importância de conhecer o próprio corpo e fazer o exame preventivo para rastrear o câncer de mama. “As pessoas precisam ter essa visão, de fazer exames, de se cuidar. Jovens costumam ser meio rebeldes e fazer exame ou ir ao médico só quando está se sentindo mal, em vez de fazer os preventivos. Mas é muito importante passar no ginecologista e fazer esse acompanhamento pelo menos uma vez por ano, fazer todos os exames e ver se está tudo bem, em todos os aspectos”, indica.
Exames de rastreamento do câncer de mama
A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e outras três instituições médicas – Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR) e Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica – recomendam que o rastreamento do câncer de mama seja iniciado a partir dos 40 anos nas mulheres que não apresentam fatores de risco e repetido a cada ano. Leia mais sobre isso no site Feito Para Ela.
O vice-presidente da Comissão Nacional Especializada (CNE) de Mastologia da Febrasgo, Dr. Felipe Zerwes, explica que não há uma recomendação para rastreamento com exames de imagem (mamografia ou ultrassonografia mamária) em mulheres abaixo dos 40 anos, a menos que elas apresentem sintomas ou suspeitas da doença. “Pacientes com risco aumentado, como aquelas com histórico familiar de câncer de mama, podem iniciar o rastreamento mais cedo”, afirma.
Segundo o especialista, mulheres com mamas densas necessitam de uma atenção especial, pois apresentam um leve aumento no risco de câncer de mama. “Nesses casos, a mamografia deve ser complementada pela ultrassonografia mamária, e em situações específicas, a ressonância magnética mamária pode ser considerada”, ressalta o Dr. Felipe.
*Priscila Horvat é jornalista com foco em saúde e integra a equipe da Momento Diabetes.