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Crianças Crianças podem desenvolver diabetes tipo 2?

Muitas pessoas não sabem, mas crianças e adolescentes também podem desenvolver diabetes tipo 2, doença relacionada a maus hábitos alimentares e sedentarismo.

Letícia Martins | 25/10/2019

Até um tempo atrás, quando ouvíamos falar que alguém tinha diabetes, lembrávamos logo de uma avó ou um vizinho idoso. Isso porque o diabetes tipo 2 está muito relacionado a fatores como idade avançada, falta de atividade física, alimentação inadequada, genética, entre outros. Portanto, diagnosticar uma doença dessa em crianças, seres agitados por natureza, que gostam de brincar, pular e gastar energia, era praticamente inimaginável.

Mas, infelizmente, os números oficiais têm mostrado uma realidade alarmante: em quatro décadas, a obesidade entre crianças e adolescentes aumentou dez vezes, segundo estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Imperial College London publicado no The Lancet.

O excesso de peso desencadeia outros problemas sérios, tanto emocionais, como baixa autoestima e depressão, quanto físicos, entre eles alterações oftalmológicas, circulatórias e cardiovasculares, colesterol alto, doenças dos rins e diabetes.

É difícil dimensionar o aumento de casos de diabetes tipo 2 na população infantil brasileira porque no Brasil não há unificação desses dados. “O que sabemos é que a incidência vem crescendo, seguindo a tendência do aumento de peso na população pediátrica”, aponta a endocrinologista pediátrica Myrna Perez Campagnoli, médica e pesquisadora do Centro de Diabetes Curitiba (CDC). 

Se faltam números gerais, sobram exemplos reais. É só observar a mudança de hábitos: crianças brincando cada vez menos ao ar livre e passando mais tempo em frente à televisão, ao videogame ou vidrados no celular. As horas ociosas no sofá geralmente são preenchidas com guloseimas, salgadinhos industrializados e fast foods, que se transformam em gordura e acumulam-se no corpo por falta de exercício físico.

O resultado nada feliz dessa combinação é acusado pela balança e pelo espelho, além de serem revelados nos exames e na qualidade de vida desses jovenzinhos. É o que está sentindo na pele a família da dona de casa S. R. S, de 49 anos, que mora em Blumenau (SC) e prefere não se identificar.

Ela é mãe de dois adolescentes, de 17 e 13 anos. O mais velho recebeu o diagnóstico de diabetes tipo 2 aos 12 anos, época em que chegou a pesar 100 quilos. Já a caçula não foi diagnosticada com a doença, mas está num estágio delicado, chamado pré-diabetes. Ambos fazem uso de medicamento todo os dias para reduzir a taxa de açúcar no sangue, mas enfrentam dois grandes desafios: adotar novos hábitos de vida e seguir uma alimentação saudável.

“Nós até diminuímos o consumo de salgadinhos industrializados e frituras, mas eles acabam comendo fora de casa e aí não consigo controlar. Além disso, estamos sempre brigando com a balança, pois os fast food e as comidas prontas são muito gostosos e nos fazem sair da dieta em três ou quatro dias”, diz a mãe, que, assim como o marido, fez a cirurgia bariátrica, porém ambos continuam obesos.

Depois da operação, o pai está conseguindo manter o diabetes sob controle e busca praticar atividade física, estimulando os filhos. Porém, o primogênito, hoje com 17 anos e 1,70m de altura, já está pesando 160 quilos.

De acordo com a médica do Centro de Diabetes Curitiba, não existe indicação para cirurgia bariátrica em menores de 18 anos, pois o organismo deles ainda está em formação. “Além disso, toda cirurgia bariátrica requer mudanças de hábitos do paciente para que a perda de peso aconteça de fato”, afirma. No caso do filho de S. R. S, a médica explica que o ideal seria fazer uma avaliação psicológica e psiquiátrica, com acompanhamento de atividade física e nutrição. Se mesmo depois disso, o jovem não perder peso e não conseguir controlar o diabetes, a cirurgia poderia ser indicada. Mas a médica destaca: “A cirurgia bariátrica em pessoas que não mudam os hábitos de vida não vai ajudar”.

 

Sintomas de DM2 em crianças

Conhecer os sintomas da doença é fundamental para o diagnóstico precoce e o tratamento adequado. Doutora Myrna explica que o diabetes do tipo 2 é uma doença silenciosa e traiçoeira, que se instala quando a ação da insulina produzida pelas células beta do pâncreas não funciona da forma correta.

“Apenas a título de comparação, o diabetes tipo 1, insulinodependente, tem início abrupto, com sinais e sintomas bastante evidentes e diagnóstico rápido em virtude da elevação rápida e progressiva da glicemia, que culmina em poucos dias no quadro de cetoacidose se não for diagnosticada e tratada de pronto. É um quadro totalmente diferente do tipo 2, que apresenta sintomas leves, de evolução lenta e que podem ser incorporados e contornados por longos períodos até o diagnóstico”, esclarece a médica.

 

Os sintomas clássicos do diabetes tipo 2 são:

  • Muita sede: O excesso de glicose fica acumulado na corrente sanguínea, permitindo que os líquidos sejam retirados dos tecidos. Por este motivo, a criança fica com sede e bebe mais água do que o habitual. Logo, tem mais necessidade de fazer xixi também.
  • Aumento do apetite: Sem insulina suficiente para transportar a glicose para dentro das células, os
    músculos e órgãos ficam sem energia e a criança sente mais fome.
  • Cansaço e desânimo: Como as células são privadas de açúcar, a criança fica cansada, pode ficar desatenta na escola e irritada.
  • Cicatrização lenta ou infecções frequentes: O diabetes tipo 2 afeta a capacidade do corpo de se curar e resistir às infecções.
  • Manchas na pele: Áreas de pele escura podem ser um sinal de resistência à insulina. Chamadas de acantose nigricans, as manchas escuras ocorrem frequentemente nas axilas ou no pescoço e muitas vezes são confundidas com sujeira.

 

Diagnóstico

O diagnóstico do diabetes tipo 2 é feito por meio do exame clínico (identificação dos sintomas) e laboratorial. Se a pessoa apresentar uma das situações abaixo, o diagnóstico é confirmado:

• Glicemia de jejum acima de 126 mg/dL em duas dosagens OU
• Uma glicemia de jejum acima de 126 mg/dL e uma glicemia aleatória acima de
200 mg/dL OU
• Curva glicêmica de 120 minutos com glicemia acima de 200 mg/dL.

Tratamento

O tratamento do diabetes tipo 2 em pacientes menores de 18 anos se baseia principalmente em um estilo de vida saudável, alimentação equilibrada e atividade física.

Em alguns casos pode ser necessário o uso de medicamentos orais ou insulina, mas vale destacar que esse quadro pode mudar. A criança ou o adolescente não ficará necessariamente dependente de remédios para sempre. “No diabetes tipo 2, quanto melhor o cuidado com os hábitos de vida, melhor será o controle glicêmico. Muitas vezes, a terapia comportamental é suficiente para o tratamento”, esclarece doutora Myrna.

 

Prevenção

Ter familiares com diabetes tipo 2 na família aumenta as chances de desenvolver diabetes tipo 2, mas não deve ser encarado como uma sentença. Adotar bons hábitos alimentares e praticar atividade física regular ajudam muito na prevenção da doença. Então, que tal incentivar os filhos a descer para o play e brincar à vontade?

 

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