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Entrevistas Esporte e Diabetes – Conheça Emerson Bisan, o rei das ultra maratonas

Emerson Bisan ensina que respeitar o limite do corpo é a chave para alcançar os objetivos dentro e fora dos esportes.

Bianca Fiori | 05/12/2019

Esporte e Diabetes – Conheça Emerson Bisan, o rei das ultra maratonas

Ele já chegou a correr prova de 217 quilômetros, tem mais de 80 maratonas no currículo e comanda uma equipe de corrida na capital paulista. Ainda encontra tempo para ser pai de duas lindas meninas e marido dedicado. Este é um dos conselheiros da Momento Diabetes, Emerson Bisan, referência no Brasil em ultramaratonas, distâncias com mais de 42 quilômetros. A vida desse atleta foi transformada com o diagnóstico de diabetes tipo 1 ainda na faculdade. Mas em vez de se entregar à doença, ele fez dela uma oportunidade para ajudar outras pessoas com a mesma condição, afinal o esporte e o diabetes estarão para sempre em sua vida.

Em sua 11º edição a Momento Diabetes bateu um papo com ele sobre esporte e vida pessoal e você fica sabendo de toda essa conversa a seguir.

 

Momento Diabetes: Você escolheu a Educação Física por conta do diabetes?

Emerson Bisan: Por ironia do destino, quando comecei a faculdade ainda não tinha sido diagnosticado e ainda tinha dúvidas de quais seriam as áreas de atuação. O diagnóstico me ajudou e me direcionou para a educação em diabetes ligada ao esporte.

MD: Há quanto tempo você tem diabetes e como foi sua descoberta?

Emerson: Foi durante a faculdade de Educação Física, em 1995, portanto há 23 anos. Vi meu rendimento cair nas aulas e na academia. Perdi seis quilos em duas semanas; as idas constantes ao banheiro e a sede incessante me fizeram lembrar de uma aula de primeiros socorros, na qual aprendemos a identificar os sintomas de diabetes. Antes de receber os resultados dos exames laboratoriais, em uma campanha escolar, fiquei sabendo que minha glicose estava acima de 400 mg/dL e o diagnóstico de diabetes mellitus tipo 1 (DM1) foi confirmado.

Eu tinha muitas dúvidas se poderia continuar praticando esporte ou mesmo cursar Educação Física, mas logo na primeira consulta, quando perguntei ao médico, ele me mostrou o quadro de um nadador cheio de medalhas. Era Mark Spitz, na época o maior ganhador de medalhas de ouro em uma única olimpíada. Spitz era DM1. Saber disso foi uma injeção de ânimo na minha veia! Aquela notícia me deu muita força para encarar a doença e prometi para mim mesmo que seria o “Mark Spitz” para outras pessoas recém-diagnosticadas, principalmente crianças.

MD: Quem são seus exemplos de atletas com e sem diabetes?

Emerson: Além de Mark Spitz, que foi o primeiro símbolo para mim, sempre gostei do Pelé e do Zico, mas em função da minha ligação com o fórum de discussão Diabetes & Desportes, acabei me tornando fã de vários atletas com diabetes tipo 1, como os alpinistas Marcelo Bellon e Alexei Angelo Caio, o triatleta Vinícius Santana, os ironmen Milena Klein e Vitor Casagrande, o carateca Daniel Caputo, entre outras pessoas que conheci pelo doce caminho do esporte.

 

MD: Quando começou sua relação com a corrida?

Emerson: Um ano antes de receber o diagnóstico de diabetes, comecei a orientar o meu primeiro aluno em qualidade de vida: meu pai. Ele estava obeso e sedentário, correndo sérios riscos de adquirir doenças e traumas ligados ao sedentarismo. Com a atividade física regular, meu pai conseguiu perder 20 quilos, ganhou massa magra e saiu da caminhada para a corrida. Começamos juntos a preparação para a sua primeira prova da São Silvestre. Percebi que nos dias que eu corria com ele ficava muito mais fácil controlar a glicemia. Um ano depois do diagnóstico completamos juntos a minha primeira maratona.

MD: Quantas maratonas e ultramaratonas você já fez e como se prepara para elas?

Emerson: Completei recentemente minha 80ª maratona, prova mística do atletismo com 42,195 km e pela qual sou apaixonado. Mas perdi as contas de quantas ultramaratonas fiz! Esses desafios podem ser realizados em diversos ambientes: no deserto, na montanha, em praias, florestas, dunas e etc. O segredo na preparação é manter um treinamento constante durante poucos dias até a data da prova. A rotina específica para esse tipo de prova nada mais é do que correr, correr, correr e correr. Isso eu aprendi muito bem e amo fazer independentemente das condições físicas e climáticas.

MD: Em relação ao diabetes, o que é mais duro administrar em uma maratona?

Emerson: Felizmente, o controle glicêmico é o que me dá menos trabalho. O importante é a monitorização periódica da glicemia, principalmente quando está começando. Se você quer correr, precisa fazer os controles direitinho, anotar, repetir e estudar o que precisa ser ajustado, como alimentação, dose de insulina e intensidade do exercício. Essa é minha especialidade.

 

MD: Qualquer pessoa com diabetes controlada pode realizar uma ultramaratona?

Emerson: Para este tipo de prova, mesmo quem não tem diabetes deve apresentar atestado médico específico para a participação. Mas a grande lição que fica é exatamente essa: com um bom controle e educação em diabetes, você pode ser um maratonista ou ultramaratonista e realizar qualquer sonho que desejar, seja ele relacionado à viagem, maternidade, profissão, enfim, não há limites. Basta manter uma boa educação e ter o controle do diabetes nas mãos.

MD: Qual sua mensagem para quem deseja realizar algo assim, mas ainda não começou?

Emerson: Você não precisa necessariamente correr uma maratona para manter a saúde e o controle glicêmico. Uma atividade básica já vale muito. Mas na sua vida procure realizar grandes coisas, sair do comum, viver intensamente, ser grande e escrever uma história interessante e brilhante. Basta se planejar, se dedicar e acreditar sempre!

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