Com apoio e informação, é possível manter o tratamento em dia e preservar o rendimento no trabalho.
Por Priscila Horvat*
Ser um profissional dedicado, responsável e, ao mesmo tempo, viver com diabetes, é algo possível, desde que o paciente tenha acesso às informações corretas sobre seus direitos e adote estratégias que ajudem a manter o controle glicêmico ao longo de todo o expediente. Mas, para conseguir alcançar o sucesso nessa rotina é necessário que empresa e funcionário invistam em três pilares: conhecimento, planejamento e acolhimento.
Do ponto de vista legal, existem garantias básicas asseguradas ao trabalhador com diabetes. Mas é importante destacar que a confidencialidade sobre o diagnóstico é um direito, ou seja, a empresa só pode ter acesso a essa informação se o próprio colaborador optar por apresentar um laudo ou atestado médico. “Sempre há aquela história se devemos ou não informar sobre o quadro de diabetes na hora da contratação. A resposta é de que um funcionário não tem obrigatoriedade de informar que possui diabetes mellitus ou qualquer outra doença. Caso ocorra essa obrigatoriedade por parte do empregador, estamos diante de uma prática ilegal às leis trabalhistas vigentes”, explicou o advogado Lucas Duarte, que vive com diabetes tipo 1 desde 2007, em entrevista à diabetesMagazine.
Além disso, é dever do empregador tratar esse dado com absoluto sigilo, como orienta o Código de Ética Médica, e as leis brasileiras preveem adequações razoáveis para qualquer condição de saúde crônica que exija cuidados durante a jornada de trabalho, como pausas para alimentação, uso de insulina ou controle de glicemia.
Entre os trâmites da contratação de um emprego com carteira registrada, é obrigatória a realização do exame admissional, que verifica a aptidão física e mental do funcionário para a função pretendida. Porém, se o diabetes for apontado no diagnóstico e resultar na não contratação, a situação pode ser classificada como discriminação ilegal.
“Embora não seja obrigatório informar ao empregador sobre a condição de diabetes, é altamente recomendável fazê-lo. Como pessoa com diabetes, recomendo essa prática para facilitar a implementação de medidas de segurança e conscientização no ambiente de trabalho. Isso permite que a empresa eduque a equipe sobre o diabetes, promovendo um ambiente mais inclusivo e prevenindo conflitos e discriminação”, orienta o advogado, que também é fundador do projeto Diabéticos da Ilha.
Entre os direitos específicos dos funcionários com diabetes estão a possibilidade de se ausentar para consultas, exames ou eventuais episódios para se recompor após algum pico ou queda glicêmica.
Para manter o tratamento em dia no ambiente de trabalho, é recomendado o uso de tecnologias de apoio, como sensores de glicemia, aplicativos para auxiliar com marcações e lembretes de aplicação de insulina. Essas ferramentas permitem discrição, autonomia e mais segurança, especialmente para quem enfrenta rotinas longas ou sob pressão. Também é importante ter sempre à mão um lanche acessível, respeitar os horários das refeições e manter-se hidratado para manter o controle glicêmico no ambiente de trabalho.
O advogado também ressalta que a empresa deve promover um ambiente mais inclusivo. “A Semana Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho (SIPAT) já é uma prática comum em muitas empresas”. E, embora elas não tenham a obrigatoriedade de realizar campanhas específicas sobre diabetes, é uma ótima oportunidade de conscientização e educação em diabetes.
“A conscientização e a educação no local de trabalho são fundamentais para evitar discriminação e promover a saúde e o bem-estar de todos”, finaliza o profissional. Por isso, vale a pena o funcionário com diabetes planejar o dia com antecedência, comunicar as necessidades de saúde com clareza.
*Priscila Horvat é jornalista com foco em saúde e integra a equipe da Momento Diabetes.
