De alterações menstruais à menopausa, saiba como o diabetes impacta a saúde feminina ao longo do tempo – e por que o acompanhamento médico é fundamental em todas as fases.
Por Priscila Horvat*
O diabetes é uma condição crônica que atinge cerca de 20 milhões de pessoas apenas no Brasil. É uma doença que afeta homens, mulheres e crianças, mas que tem um impacto diferente no organismo feminino, com características próprias em decorrência das oscilações hormonais ao longo da vida, desde a puberdade, com a menarca, até a gestação e a menopausa. Por isso, o controle glicêmico pode se tornar mais desafiador e exigir cuidados específicos.
Com o avanço da ciência, cada vez mais os médicos conseguem compreender melhor as diferenças dos impactos dessa e de outras doenças para os diferentes sexos. Mas, além dos fatores biológicos, o impacto emocional também é significativo. Com a “gangorra” de emoções que a mulher vive (seja durante a TPM – tensão pré-menstrual – ou na menopausa), elas podem ter maior chance de desenvolver ansiedade e depressão, muitas vezes por acumularem responsabilidades com trabalho, casa e autocuidado. Por isso, o suporte psicológico e o acompanhamento médico multidisciplinar são fundamentais para garantir a qualidade de vida.
Alterações no ciclo menstrual e risco de infecções ginecológicas
O ciclo menstrual irregular é uma das manifestações do diabetes mal controlado nas mulheres. Segundo o Dr. José Maria Soares Júnior, ginecologista obstetra e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), o excesso de insulina no sangue (hiperinsulinemia) provocar alterações no ciclo menstrual. “Esse processo interfere na dinâmica folicular, ovulação e produção hormonal, alterando o ciclo menstrual”, explicou o médico, em entrevista ao portal Feito para Ela.
O tratamento depende da gravidade do quadro e pode incluir mudanças no estilo de vida, medicamentos que melhoram a ação da insulina e, em alguns casos, uso de anticoncepcional hormonal combinado “desde que respeitados os critérios de elegibilidade da Organização Mundial da Saúde”, destaca o médico, que atualmente é o presidente da Comissão Nacional Especializada (CNE) em Ginecologia Endócrina da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo),
Outro efeito do diabetes mal controlado para as mulheres são as infecções ginecológicas de repetição, como candidíase e vaginose. Isso acontece porque a condição compromete o sistema imune, facilitando a proliferação de microrganismos oportunistas. “Há também maior frequência de infecção da pele”, completa o Dr. José Maria.
Gravidez com diabetes: sim, é possível!
Durante a gestação, o controle glicêmico deve ser ainda mais rigoroso. “O mau controle do diabetes pode provocar abortos frequentes e inesperados, além de má-formação do bebê”, alerta o endocrinologista Dr. Levimar Rocha Araújo, em entrevista ao Feito para Ela. A boa notícia é que, com planejamento e acompanhamento médico adequado, é totalmente possível ter uma gravidez saudável.
Ele orienta que, antes de engravidar, a mulher com diabetes deve passar por uma avaliação com endocrinologista e ginecologista-obstetra. “Adotar um estilo de vida saudável também é essencial para amenizar o risco de complicações tanto para a gestante quanto para o feto”, reforça o Dr. José Maria.
Um tipo específico que merece atenção é o diabetes gestacional, que acomete mulheres durante a gravidez e pode predispor ao diabetes tipo 2 no futuro. Estima-se que 20 a 25% das mulheres com diabetes gestacional desenvolvem diabetes tipo 2 ao longo da vida.
A menopausa pode afetar o controle do diabetes?
“Sim, porque os hormônios femininos interferem na sensibilidade à insulina. Com a redução dos níveis de estrogênio, observada na menopausa, pode ser mais difícil controlar a glicemia. Além disso, ocorre uma desaceleração do metabolismo, com tendência ao ganho de peso, aumento da resistência insulínica e do risco cardiovascular. Por isso, é importante incentivar a prática de exercícios e ajustar o tratamento do diabetes. Vale destacar que nesse período a ansiedade também pode aumentar e, por essa razão, as mulheres precisam ser acompanhadas de perto pelos seus médicos. Em alguns casos, pode ser recomendado fazer terapia de reposição hormonal”, afirmou a médica Dra. Solange Travassos, vice-presidente da SBD, em entrevista à DIABETESmagazine.
A menopausa ainda exige atenção extra porque alguns sintomas, como ondas de calor, podem ser confundidos com episódios de hipoglicemia. Já o cansaço e a falta de ânimo, frequentes nesse período, também podem ser, de maneira errada, atribuídos ao descontrole glicêmico. Para minimizar os impactos dessas mudanças, a recomendação é monitorar a glicemia com mais frequência e manter hábitos saudáveis, como alimentação equilibrada, prática de exercícios e consultas regulares com endocrinologista e ginecologista. Em alguns casos, a reposição hormonal pode ser indicada.
Prevenção e qualidade de vida
Algumas atitudes ajudam a evitar complicações:
- Monitorar os níveis de glicemia regularmente e manter a hemoglobina glicada dentro do intervalo recomendado;
- Manter alimentação saudável e atividade física regular;
- Controlar a pressão arterial e o colesterol;
- Realizar exames periódicos de visão, rins, pés e acompanhamento ginecológico;
- Evitar tabagismo e o consumo excessivo de álcool;
- Usar corretamente os medicamentos prescritos e buscar atendimento médico sempre que houver sinais de infecção ou feridas que não cicatrizam.
Apesar dos desafios, é possível uma mulher viver bem com diabetes em todas as fases da vida. Com acompanhamento médico e atenção aos detalhes específicos do organismo feminino, o diabetes pode ser controlado em todas as fases da vida da mulher!
*Priscila Horvat é jornalista com foco em saúde e integra a equipe da Momento Diabetes.