Por Priscila Horvat*
Escolher um médico confiável para tratar uma condição crônica de saúde como o diabetes pode ser uma tarefa desafiadora, mas é uma etapa importante demais para ser negligenciada. Ao tentar agendar uma consulta de uma especialidade que até então você desconhece, geralmente as pessoas procuram quem está com a agenda mais acessível ou, mais recentemente, quem acumula mais seguidores nas redes sociais. Se você faz parte de um time ou outro, saiba que essas duas formas não são as mais indicadas para escolher um médico.
É preciso lembrar que o médico escolhido vai te acompanhar ao longo da vida, saber detalhes da sua vida, da sua rotina e até de informações da sua família. Ele vai juntar todas essas informações com os resultados dos seus exames e fazer uma avaliação geral de tudo isso para, então, definir qual o melhor protocolo para o sucesso do seu tratamento.
Segundo o endocrinologista Dr. Levimar Rocha Araújo, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD – gestão 2022-2023), uma dica importante para o paciente avaliar se as práticas apresentadas pelo médico estão alinhadas com as melhores evidências e orientações é o diálogo. “É fundamental que o paciente se informe sobre a condição e questione o médico se tal procedimento é bom, se essa ou aquela terapia é indicada para o caso dele, qual o melhor tipo de insulina, levando em consideração a forma de administração, entre outros pontos”, recomenda o especialista, que convive com diabetes tipo 1 (DM1) e, portanto, conhece os dois lados da moeda.
O médico revela que tem o hábito de se atualizar em congressos médicos e na literatura. “Vejo as atualizações nas revistas especializadas, tanto da SBD quanto da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem), artigos da literatura americana e europeia, importantes para se atualizar sobre a parte farmacológica, as diretrizes e a educação em diabetes”, afirma o Dr. Levimar, que criou a DIABETESmagazine, revista-irmã da Momento Diabetes que leva informação confiável às pessoas com diabetes.
O Dr. Mark Barone, DM1, fundador do Fórum CCNTs (Condições Crônicas Não Transmissíveis) e criador do Manual Linguagem Importa, segue a mesma premissa para se manter atualizado. “Acompanho as publicações das principais entidades, como a SBD, a ADJ Diabetes Brasil e a Federação Internacional de Diabetes (IDF), além de participar de eventos promovidos por sociedades reconhecidas. Temos que ter a tranquilidade de que estamos recebendo informação de uma instituição idônea, que não divulga coisas que ainda não estão comprovadas”, declara o idealizador do projeto Jovem Líderes em Diabetes, que forma jovens para serem lideranças e exemplos na área.
Ele ainda explica que é muito comum que os profissionais da saúde sejam bombardeados por informações, porém, elas podem ser enviesadas. “Algumas situações podem ter conflito de interesse comercial, então é importante que o profissional tenha esse cuidado de onde busca a informação, principalmente agora, na era digital, em que as informações chegam até nós sem que a gente perceba. É preciso filtrar tudo muito bem”, indica. Além disso, conteúdos e protocolos milagrosos são um indício de que a pessoa com diabetes precisa procurar outro médico.
Onde procurar profissionais confiáveis
Conforme indicação do Dr. Levimar Araújo e do Dr. Mark Barone, existem algumas formas de saber se aquele médico pode ser o mais adequado para o tratamento em questão. E a mais importante de todas é conferir se ele é associado a alguma entidade séria, como:
- Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), referência número um do assunto no Brasil;
- Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem);
- Federação Internacional de Diabetes (IDF);
- ADJ Diabetes Brasil;
- Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), para um cuidado extra com a questão do diabetes gestacional;
- Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG);
- Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC);
- Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN).
O que avaliar
Não basta simplesmente encontrar o nome do médico em um site de uma sociedade médica. Também é preciso saber detalhes do seu estilo de atendimento. Por isso, os profissionais indicam:
- Confira a credibilidade do médico por meio do Cadastro Regional de Medicina (CRM), para conferir se ele é um especialista e se é associado e credenciado pela SBD ou Sbem;
- Pesquise artigos e trabalhos publicados por esse profissional;
- Busque por indicação de outros médicos ou profissionais da área da saúde;
- Pesquise sobre a atuação do médico com outros pacientes;
- Confira, por meio das redes sociais, se esse médico vai a congressos e se atualiza sobre a condição de um modo geral;
- Cheque os critérios de conduta e as diretrizes de sociedades médicas confiáveis;
- Verifique se o profissional abusa de discursos falsos, como promessas de controle imediato da glicose, cura do diabetes, entre outros.
Lembrando que o tratamento do diabetes é multidisciplinar, ou seja, envolve várias especialidades, e vale a pena fazer essa pesquisa também em relação ao nutricionista, fisioterapeuta, odontologista, e por aí vai. “Cada vez mais sabemos que a educação em diabetes não é só saber aplicar insulina. Então, também é válido escolher um psicólogo, para saber se cuidar, lidar com as emoções, entender melhor aquela situação”, indica o Dr. Mark.
“A pessoa tem que se sentir confortável com aquele profissional, porque o diabetes é uma condição para a vida toda. Então, o profissional escolhido tem que ser agradável e ser um parceiro na medida certa, afinal, de nada adianta encontrar um profissional que seja muito amigável, mas que prejudica a saúde da pessoa”, finaliza.
*Priscila Horvat é jornalista com foco em saúde e integra a equipe da Momento Diabetes.